Com a bola já rolando nos gramados, a indústria têxtil nacional projeta queda na produção pelo quarto ano seguido
Para o setor têxtil, a Copa do Mundo segue na retranca. O boom de vendas com uniformes oficiais, camisetas verde e amarelas e adereços variados, que era esperado pelo simples fato de os jogos serem no Brasil, ficou bem aquém do previsto. Quem avançou nesse campo, mais uma vez, foram os produtos importados. Com a bola já rolando nos gramados, a indústria têxtil nacional projeta queda na produção pelo quarto ano seguido.
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) relata uma parada na produção em abril e maio, após algum crescimento no primeiro trimestre. “Houve um ajuste de estoques, por causa de baixas encomendas do varejo”, relata Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit.
Segundo o executivo, historicamente, as Copas incrementam a produção de têxteis (camisetas, toalhas, bonés, gorros etc. alusivos à seleção) em torno de 5% a 10%. Este ano, porém, há um “sentimento pouco entusiasmado”, não apenas em relação a um dos maiores eventos esportivos do mundo. A indústria têxtil também é afetada por baixa confiança do consumidor, maior comprometimento da renda com dívidas e inflação pressionada – em suma, um esfriamento no consumo.
As principais marcas de material esportivo (Nike, Adidas e Puma) porém, mantêm discurso otimista com as vendas para a Copa, mas não revelam números. A venda de camisas de seleções, no entanto, é insuficiente para movimentar a indústria. Os produtos da Adidas são fabricados “em vários locais diferentes” pelo mundo. Só a Nike destaca que “o uniforme completo da Seleção Brasileira (camiseta, shorts e meião) é produzido 100% no Brasil”, em fábricas espalhadas pelo País.
Expectativa
O grande varejo de artigos esportivos também se diz otimista, mas faltam dados que mostrem crescimento expressivo de vendas. A Centauro, maior rede de varejo de artigos esportivos do País, com 184 lojas em 22 Estados e faturamento de R$ 1,9 bilhão, informa apenas que a expectativa é que as vendas aumentem “cada vez mais”, principalmente durante o Mundial.
A rede de artigos esportivos Decathlon é mais precisa. Desde a primeira semana de maio, os seis modelos de camisas oficiais da Seleção Brasileira começaram a vender mais. No entanto, apenas na primeira semana deste mês houve aumento mais relevante: 500% na saída média das camisas oficiais. A rede francesa ampliou em 30% as encomendas de produtos relacionados à Copa.
“O brasileiro deixa tudo para a última hora. Quando bater a Copa o cara esquece tudo e parte para a festa”, diz Mendonça, referindo-se ao aparente desânimo dos brasileiros em relação à realização do evento por aqui.
No comércio popular do Rio, os relatos são de movimento mais intenso somente na última semana. “Geralmente, quando a seleção chega à sede, já começa aquele clima. Este ano, por incrível que pareça, começou mais tarde”, diz Leonardo Zonenschein, sócio da Dimona, empresa com quatro lojas na Saara, mais tradicional polo carioca de comércio popular, no centro.
Para o empresário, somente agora “as pessoas estão começando a se entregar ao clima”, mas as vendas não deverão ficar muito diferentes do Mundial de 2010. Segundo Zonenschein, há decepção entre seus fornecedores, fabricantes do Sul do País.