ORIENTAÇÃO Publicação destinada a agricultor de assentamento rural é focada nos cuidados com área de preservação permanente de nascentes, rios, riachos e fontes d’água
Um livro para orientar agricultores de assentamentos rurais a explorar os recursos naturais sem prejudicar o meio ambiente. É essa a proposta da primeira publicação lançada pela Associação Águas do Nordeste (ANE), organização não-governamental pernambucana criada em 2011.
O Guia para adequação ambiental em assentamentos rurais está focado nos cuidados com as Áreas de Preservação Permanente (APP) de nascentes, rios e riachos, fontes d’água dos agricultores na Zona da Mata. “Nascente de rio é a mais importante delas, pela boa qualidade da água”, diz o biólogo Ricardo Braga, presidente da ANE.
Mas, por falta de apoio técnico, nem sempre as atividades desenvolvidas pelos pequenos agricultores contribuem para a conservação dos mananciais. O uso exagerado da água, a má utilização do solo, além da aplicação de agrotóxicos e fertilizantes sem orientações são problemas apontados pelo biólogo. Com ajuda técnica, diz ele, os agricultores podem captar a água por gravidade ou aspersão, para usar no consumo humano e animal, cultivo de pescados e na irrigação, sem prejudicar a vazão do manancial.
“O livro surgiu para dar suporte a pequenas propriedades, com áreas de três a 20 hectares, dedicadas à agricultura familiar”, declara Ricardo Braga, que divide a autoria do guia com os pesquisadores Carlos Eduardo Menezes e Carlos André Cavalcanti. “Preservando a nascente, a água não seca e permanece limpa”, acrescenta o biólogo. Na publicação, eles indicam plantas que podem ser usadas para o reflorestamento das áreas de nascentes e margens de rios, nos assentamentos.
“Sugerimos 20 espécies da mata atlântica, com informações sobre cada uma delas. Algumas, como o ipê-roxo, ipêamarelo, trapiá, tamboril e sabiá também podem ser plantas na caatinga.” A ideia do guia nasceu três anos atrás, quando os pesquisadores desenvolviam projeto nas nascentes do Rio Natuba, na Zona da Mata Sul. Em visitas a três assentamentos de Pombos e Vitória de Santo Antão, constataram a falta de infraestrutura adequada nas produções agrícolas.
Segundo Ricardo Braga, todo assentamento de reforma agrária deve separar 20% da área para reserva legal. “Porém, o desmatamento é comum nesses locais.” Criado há mais de 12 anos e dividido por uma área de mata de 500 hectares, o assentamento Chico Mendes, em Pombos, foge à regra. “É um caso raro de preservação da floresta.” Quando não há mais a presença de vegetação, diz Ricardo Braga, cabe ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) fazer o replantio.
“As árvores protegem as nascentes e cursos-d’água”, afirma. Os pesquisadores identificaram mais de 110 nascentes do Rio Natuba, afluente do Rio Tapacurá (afluente do Rio Capibaribe), em dois dos assentamentos estudados.
A ANE editou mil exemplares do guia, com recursos do CNPq e Fundo Nacional do Meio Ambiente. A distribuição é gratuita e o livro pode ser encontrado em associações de assentados, ONGs que trabalham com agricultura familiar e bibliotecas. Também está disponível no sitewww.aguasdonordeste.org.br.