Poema: Vitória de Santo Antão

Foto: Danilo Coelho/Blog Nossa Vitória
Só e esperançoso, sonhei com minha cidade.
Fiquei pensativo e saudoso.
No sonho, encontrei as mesmas lojas,
as mesmas casas, as mesmas igrejas,
os mesmos amigos, os mesmos mendigos,
os mesmos granfinos.
As crianças continuavam crianças,
os idosos continuavam idosos,
ninguém chorava, ninguém sofria,
ninguém morria.
No campo de futebol, no Rio Tapacurá 
na Rua Amarela, na Rua do Dique, No rio do Cajá,
no Bairro do Livramento, na Igreja do Rosário,
na Praça da Matriz, no Bairro do Cuscuz onde vivi, 
Na maternidade onde nasci,
tudo estava exatamente como na minha infância.
Sem saber o certo, consegui realizar um milagre,
num piscar de olhos, eu estava na minha cidade!
Tudo estava como antes, nada havia mudado,
tudo era só da gente (meu e de meus amigos de infância),
tudo igual a quando eu era criança!
Visitei a fábrica da Pitú, encontrei o Professou Mário Bezerra na porta do
Colégio Municipal 3 de Agosto, e passei na frente do
Colégio Nossa Senhora das Graças.
Conversei com o professor José Amâncio,  pedi a bênção a Padre Pita,
revi os amigos; crianças, adultos, jovens, barbudos,
alegres, tristes, sadios, doentes…
Andei pelas ruas do comércio, escutei o canto do ferreiro
da Casa de Ferragem de Domingos Beltrão,
corri nas praças, assisti novamente a matinê no Cine Iracema,
no Diogo Braga,
brinquei no reservatório, e entrei, mais uma vez,  
na Maria Fumaça na Estação Ferroviária.
Como o super-homem, voltei o tempo
e senti o gostinho de regressar para minha cidade.
Matar a saudade que há anos me consumia.
Vitória de Santo Antão, que bom voltar a ti!
Brincar carnaval na Cebola Quente, na Girafa,
no Clube dos Motoristas, “O Cisne”, no Urso Branco,
no Clube Taboquinha, no Camelo, no Leão.
Visitar minha antiga escola na Mortuária…
Reconhecer que errei, que te esqueci e te deixe
nesse mundo de Deus. Asumir que te usei.
Implorar perdão pela minha ousadia,
Pela minha ambição.
Vitória de Santo Antão, eu e meus amigos de infância
zombamos de tudo que fazias sério
nas tuas ruas, nos teus rios, nas feiras, nas escolas,
nas igrejas, no comércio, nos comícios, nos teus cinemas,
na Igreja Matriz, no cemitério.
Ah, Vitória! No teu cemitério, em Cruz das Almas,
já está gravada esta história, em cruzes e mármores.
E eu, pela falta de paciência, certamente, não estarei lá,
ao lado dos meus amigos de infância.
Mas, todos os dias, as crianças estarão pulando,
Correndo e brincando nas tuas calçadas.
Stephem Beltrão
Poema publicado no livro Retratos do Tempo, da Editora Elogica, Olinda/PE.

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