Escritor pernambucano deixou muitos autores influenciados pela sua obra; as homenagens a Avalovara neste ano tem sido tímidas
Não é só Avalovara que não tem o destaque que merece: a obra de Osman Lins como um todo ainda precisa ter sua importância avaliada, principalmente romances como Nove, novena e A rainha dos cárceres da Grécia – a exceção honrosa é a peça Lisbela e o prisioneiro, que foi adaptada para o cinema com grande sucesso de público. Para o professor de Letras Fábio Andrade, a questão é ainda mais grave. “Falta ainda um reconhecimento de toda obra dele, tanto da prosa como do pensamento crítico”, aponta.
Para Lourival Holanda, também acadêmico, é difícil pensar em autor escritor da dimensão de Osman que tenha aparecido em Pernambuco desde então. “Por que Raduan Nassar não nasceu por aqui?”, lamenta. “Muitos escrevem, poucos bem; quase ninguém fez da escrita uma profissão de fé, feito Osman. A estética literária dele é também uma ética; reordenar, na frase, o mundo”.
Ele identifica, no entanto, leitores atentos da obra de Osman no Brasil, como Milton Hatoum, Marcelino Freire e o próprio colega Fábio Andrade. Fábio confessa a referência. “Eu estou tentando tirar essa influência osmaniana da minha prosa. Meu primeiro romance, que estou preparando agora, é uma desconstrução”, revela. “Não deixa de ser uma marca da importância de Osman para mim: ter que assassinar um pai literário é algo muito simbólico”.
O escritor Raimundo Carrero também foi marcado pela obra do vitoriense. “Quando li Osman, eu modifiquei toda a minha maneira de escrever”, expõe. “Ele é um autor notável que tinha uma compreensão absoluta do romance como uma sinfonia, que é o que até hoje eu levo para as minhas obras. Ele não conta uma história, mas sim as atravessa com os sons, com a luz”.
Para Carrero, é importante enxergar os 40 anos de Avalovara como um momento perfeito para tirar Osman do esquecimento do público e da crítica. Uma mesa no Festival Internacional deste ano abordou a proximidade entre o grupo OuLiPo e o autor pernambucano, mas outras homenagens oficiais ainda não foram anunciadas – em 2014, ainda serão celebrados os 90 anos de nascimento de Osman. Fábio, no entanto, adianta que está tentando organizar com Lourival Holanda um colóquio sobre a obra do pernambucano para comemorar a efeméride em setembro.