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Caboclo de lança do Maracatu Cambinda Brasileira
(Foto: Chico Ludermir/Divulgação Fundarpe)
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O carnaval tem origem ancestral em festas de povos antigos que celebravam fenômenos astronômicos e o início ou término de ciclos naturais. Outros elementos foram agregados à festa ao longo do tempo e um dos que se fixou mais fortemente nos folguedos carnavalescos de Pernambuco foi a máscara. No estado, várias manifestações populares fazem uso desse acessório para brincar e desfilar o carnaval, levando alegria e tradição para cidades do interior do estado. Em cidades como Bezerros, Triunfo e Pesqueira, os papangus, caretas e caiporas, respectivamente, fazem a festa de Momo. Eles saem pelas ruas num grande desfile de máscaras e fantasias coloridas.
Em Nazaré da Mata, na Mata Norte de Pernambuco, os maracatus de baque solto – também chamados de maracatus rurais – comandam o encontro dos caboclos de lança, com tambor, tarol e figuras representativas como o Mateus. Já em Vitória de Santo Antão, na Mata Sul, o costume da época da folia está nos bichos e no Clube de Fados Taboquinhas. Conheça um pouco de algumas dessas manifestações tradicionais em cidades do interior de Pernambuco.
Um texto do professor Ronaldo J. Souto Maior, fundador do Instituto de Estudos Históricos, Arte e Folclore dos Bezerros, explica as origens do papangu. De acordo com o pesquisador, os primeiros papangus de Bezerros surgiram em 1881 e nasceram “de uma brincadeira de familiares dos senhores de engenhos, que saíam mascarados, mal vestidos, para visitar amigos nas festas de entrudo – antigo carnaval do século 19 –, e comiam angu, comida típica do Nordeste (Agreste) pernambucano. Por isso, as crianças passaram a chamar os mascarados de papa-angu”. Para Leonardo Dantas Silva, historiador e estudioso do carnaval pernambucano, o papangu era um mascarado doméstico, que não tinha máscara especial e podia sair até com fronhas na cabeça. “Eles saíam de porta em porta falseando a voz, fazendo visitas para comer o angu e espantavam as crianças. Hoje virou um grande desfile de máscaras”, comenta.
Papangus de Bezerros
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Papangu de Bezerros (Foto: Ricardo B. Labastier / JC Imagem / Agência Estado ) |
No dicionário, o significado encontrado para a palavra papangu é “aquele que usa fantasia no carnaval ou em reisados; pessoa mascarada; indivíduo moleirão, bobo, apalermado”. Os papangus são figuras emblemáticas no carnaval de Bezerros, cidade do Agreste central, a 107 km do Recife. Mascarados e com roupas que cobrem todo o corpo, eles saem pelas ruas da cidade sem serem reconhecidos, fazendo brincadeiras e animando a festa momesca. O grande dia do encontro de papangus em Bezerros, onde milhares deles se juntam para dar colorido às ruas, é o domingo de carnaval.
Um texto do professor Ronaldo J. Souto Maior, fundador do Instituto de Estudos Históricos, Arte e Folclore dos Bezerros, explica as origens do papangu. De acordo com o pesquisador, os primeiros papangus de Bezerros surgiram em 1881 e nasceram “de uma brincadeira de familiares dos senhores de engenhos, que saíam mascarados, mal vestidos, para visitar amigos nas festas de entrudo – antigo carnaval do século 19 –, e comiam angu, comida típica do Nordeste (Agreste) pernambucano. Por isso, as crianças passaram a chamar os mascarados de papa-angu”. Para Leonardo Dantas Silva, historiador e estudioso do carnaval pernambucano, o papangu era um mascarado doméstico, que não tinha máscara especial e podia sair até com fronhas na cabeça. “Eles saíam de porta em porta falseando a voz, fazendo visitas para comer o angu e espantavam as crianças. Hoje virou um grande desfile de máscaras”, comenta.
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Papangus animam carnaval em Bezerros (Foto: Ricardo Moura/Divulgação Fundarpe) |
Atualmente, a máscara do papangu passou a ser confeccionada por artesãos da cidade e chega a servir de objeto de decoração. Ela é normalmente confeccionada com papel maché. Os papangus se vestem com túnicas compridas, escondendo todo o corpo, e luvas, com o objetivo de não serem reconhecidos pelos foliões. Antes da folia, alguns papangus mantém a tradição e costumam comer angu feito pelos moradores da cidade.
Caretas de Triunfo
Atualmente, a máscara do papangu passou a ser confeccionada por artesãos da cidade e chega a servir de objeto de decoração. Ela é normalmente confeccionada com papel maché. Os papangus se vestem com túnicas compridas, escondendo todo o corpo, e luvas, com o objetivo de não serem reconhecidos pelos foliões. Antes da folia, alguns papangus mantém a tradição e costumam comer angu feito pelos moradores da cidade.
Em Triunfo, distante 411 km do Recife, no Sertão do Pajeú, o carnaval é alegrado pelos famosos caretas. A tradição dos personagens da folia triunfense tem aproximadamente nove décadas de existência. Uma das versões para o início dessa história estaria em outro folguedo: o Mateus, um dos personagens do reisado, teria sido expulso do grupo por ter bebido e foi para as ruas mascarado, para brincar. A princípio foi chamado de “correio” e depois passou a ser conhecido como “careta”. De acordo com informações da Prefeitura de Triunfo, o bairro do Alto da Boa Vista teria sido o primeiro a receber a brincadeira, apenas com homens entre os participantes. Depois, as mulheres tiveram espaço e atualmente também ganham as ruas mascaradas.
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Caretas estalam seus chicotes nas ladeiras de Triunfo (Foto: Ricardo Moura/Divulgação Fundarpe) |
Dos acessórios dos caretas se destacam também a tabuleta com mensagens satíricas como as que são encontradas em para-choques de caminhão e o som dos chocalhos pendurados. Além disso, os personagens impõem medo às pessoas porque descem as ladeiras mascarados, com chicotes nas mãos, assustando com as chicotadas no chão, como em um duelo. Suas roupas são bem coloridas, de cetim, e chapéus enfeitados com flores e fitas.Com máscaras, chicotes nas mãos e indumentárias que escondem todo o corpo, os caretas, no passado, saíam pelas ruas da cidade, a partir das 9h, depois da missa, até às 17h, pontualmente. Caso não cumprissem o horário que era determinado pelo delegado da cidade, eles eram presos. “As máscaras só eram usadas até cinco horas da tarde. No carnaval, os palhaços viravam as máscaras para trás porque não podiam andar mascarados. Era uma postura municipal. Era como se fosse uma determinação, de quando ninguém se lembra mais, mas era proibido”, explica o historiador Leonardo Dantas.
Maracatus de Nazaré da Mata
Os maracatus de baque solto, ou maracatus rurais, dão o colorido à festa de carnaval da cidade de Nazaré da Mata, distante 65 km do Recife. A manifestação é uma tradição passada de pai para filho na Zona da Mata Norte pernambucana, mas também atrai muitos curiosos, moradores e turistas. O Encontro de Maracatus, que reúne milhares de visitantes na cidade e acontece na segunda-feira de carnaval, tem início no Parque dos Lanceiros e percorre as principais ruas da cidade, até a Praça Papa João XXIII, conhecida como Praça da Catedral.
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Maracatus levam cores e sons a Nazaré da Mata (Foto: Vitor Tavares / G1 PE) |
O brilho, colorido e a animação de mais de 50 grupos comandam a festa de Momo em Nazaré da Mata. Os caboclos de lança, com suas golas coloridas e lanças enfeitadas com fitas, saem pelas ruas fazendo suas evoluções ao som dos tambores e taróis. “O maracatu rural, aquela figura do caboclo de lança, é uma entidade. Eles se juntam e formam a caboclada. Cada maracatu bota 30, 40, 50 caboclos. Cada caboclo de lança faz a sua fantasia, caprichada. O maracatu de baque solto também tem a figura do Mateus, que vem do bumba-meu-boi, do reisado”, ressalta o historiador Dantas.
O mais antigo maracatu de Pernambuco, o Cambinda Brasileira, fundado em 1898, é de Nazaré da Mata. A sede do grupo permanece no Engenho do Cumbe desde essa época. Possivelmente, a manifestação virou tradição na cidade por conta de maracatus antigos existentes na região, como o Cambinda Brasileira. “Essa região é exatamente a área da cana-de-açúcar e os cortadores de cana são os caboclos de lança. Existem vários grupos tradicionais naquela região, como também o Estrela de Ouro de Aliança”, diz Dantas.
A lei estadual nº 11.506/1997 instituiu o dia 1º de agosto como o Dia Estadual do Maracatu. O maracatu rural se diferencia do maracatu de nação – também chamado de baque virado – pelos personagens, instrumentos utilizados e ritmo.
Uma das histórias contadas sobre os caiporas de Pesqueira é que eles são assombrações que pregam peças em caçadores. A fantasia do caipora é composta por paletó, gravatá e um saco de estopa usado como máscara, que cobre da cabeça à cintura. A troça carnavalesca Os Caiporas, criada em 1962, também aproveita a fama do personagem e anima os foliões na cidade de Pesqueira. O que era uma lenda assustadora passa a ser uma grande diversão com homens, mulheres e crianças brincando juntos.
Uma das histórias contadas sobre os caiporas de Pesqueira é que eles são assombrações que pregam peças em caçadores. A fantasia do caipora é composta por paletó, gravatá e um saco de estopa usado como máscara, que cobre da cabeça à cintura. A troça carnavalesca Os Caiporas, criada em 1962, também aproveita a fama do personagem e anima os foliões na cidade de Pesqueira. O que era uma lenda assustadora passa a ser uma grande diversão com homens, mulheres e crianças brincando juntos.
Caiporas de Pesqueira
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Caipora nas ruas de Pesqueira (Foto: Chico Ludermir/Divulgação Fundarpe) |
O carnaval de Pesqueira, município localizado a 212 km do Recife, é conhecido pela irreverência dos caiporas, que dão o tom da festa na cidade. Segundo o historiador Leonardo Dantas, os caiporas são personagens que migraram do bumba-meu-boi, que possui 48 figuras. “As figuras do bumba-meu-boi brincam o São João, mas arrumam um jeito para brincar o carnaval, modificam a história e continuam. O caipora é um dos bichos da mata que vem para a rua durante o carnaval”, conta.
Uma das histórias contadas sobre os caiporas de Pesqueira é que eles são assombrações que pregam peças em caçadores. A fantasia do caipora é composta por paletó, gravatá e um saco de estopa usado como máscara, que cobre da cabeça à cintura. A troça carnavalesca Os Caiporas, criada em 1962, também aproveita a fama do personagem e anima os foliões na cidade de Pesqueira. O que era uma lenda assustadora passa a ser uma grande diversão com homens, mulheres e crianças brincando juntos.
Bichos de Vitória
Em Vitória de Santo Antão, a 49 km do Recife, a tradição carnavalesca fica por conta do encontro dos bichos, que é como são chamados os clubes carnavalescos do Leão, do Camelo, da Girafa, da Zebra e do Cisne. O Clube Leão (1902) é o mais antigo, seguido pelo Camelo (1921). “São clubes que saem pelas ruas com carros alegóricos com motor, muita gente com fantasias caras. Eles são acompanhados por carro alegórico com orquestra de frevo. O Leão e o Camelo são rivais”, conta Leonardo Dantas.
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Encontro dos Bichos em Vitória de Santo Antão (Foto: Costa Neto/Divulgação / Fundarpe) |
Outra manifestação carnavalesca bem tradicional na cidade é o Clube de Fados Taboquinhas, que costuma desfilar na sexta-feira de carnaval. Fundado em 1924, ele é uma reminiscência do rancho português e de um clube que havia no Recife, chamado Caninha Verde. “Taboquinhas, na realidade, é uma marcha portuguesa que migrou do Caninha Verde para Vitória de Santo Antão como Taboquinhas. Eles usam rabecas e flautas, e fantasias como um rancho de Reis”, ressalta Dantas. As fantasias lembram damas e cavalheiros da corte portuguesa, acompanhados por uma orquestra de pau e corda.Os bichos de Vitória saem normalmente na segunda-feira de carnaval e têm como principal ponto as praças da Matriz e Duque de Caxias. A tradição é colocar os estandartes na rua, com as orquestras e alegorias. A bicharada reúne dezenas de foliões na cidade. Além dos clubes com nomes de bichos, a festa no município é animada por maracatus, caboclinhos e grupos de bumba-meu-boi.
Do G1 PE