No início do ciclo junino, mão sai por R$ 30 no Ceasa
Da Folha PE
Não tem doçura de canjica que tire o azedo dos preços do milho neste ano. Ontem, data que marcou o início do ciclo junino para o comércio, a mão de milho (50 espigas) saía por R$ 30, no Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa-PE). Esse valor é mais que o dobro em relação ao mesmo período de 2011 (108% a mais). Desde janeiro, a estiagem que assola vários estados do Nordeste, considerada a pior dos últimos 40 anos, vem puxando a alta de vários produtos.
Trata-se de uma conta básica. Com menos oferta em virtude da diminuição da área cultivada e perdas de safra, o valor do produto sobe. “De uma semana para cá, já vinha sendo registrado uma diminuição na oferta em torno de 20%. Mas é esta data que marca o início do ciclo junino e, por isso, define o cenário. Com essa alta, a tendência é que os preços continuem caros até o São João. A verdade é que as perspectivas com esta seca não são nada boas”, destacou o diretor Operacional do Ceasa, Paulo de Tarso, lembrando que o comércio é muito dinâmico e a mão pode variar entre R$ 15 a R$ 30.
O preço salgado já é sentido no bolso do consumidor. A comerciante Eliete Melo, que trabalha com comidas típicas de milho há sete anos, aumentou o preço dos quitutes. Na última semana, por exemplo, a pamonha era vendida por R$ 2. Ontem, ela vendia por R$ 2,50. “Nessa época é comum que o milho fique mais caro, mas este é o pior ano. Hoje, comprei a mão por R$ 30 no Ceasa. Fui obrigada a aumentar o preço para compensar. Tem cliente reclamando, mas não tem jeito”, disse.
Nos corredores do Ceasa não é muito diferente. Inácio Francisco da Silva, 66 anos, que trabalha no centro desde a sua inauguração, afirma “nunca ter visto isso antes”. “Todo mundo tem reclamado dos preços altos. O prejuízo vai ser grande esse ano”, contou. Estima-se que uma queda 20% nas vendas: R$ 13 milhões em espigas comercializadas, frente a R$ 15 milhões, em 2011.
Paulo de Tarso garante que não há perigo de faltar milho no São João. “A maioria das plantações de milho em Pernambuco é feita através da irrigação, não depende diretamente da chuva. A estiagem baixa o nível da água nos mananciais e, consequentemente, os produtores diminuem a irrigação para economizar. Não estamos contando, inclusive, com o milho de sequeiro (de chuva), que geralmente chega durante os dias de São João”, destacou.
No entanto, o diretor de Extensão Rural do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Genil Gomes, tem outra explicação. “Noventa por cento da cultura de milho em Pernambuco é de sequeiro. As regiões do São Francisco e do Sertão do Araripe tiveram 100% de perda na safra. Já na região Agreste, o medo da estiagem fez com que o plantio diminuísse substancialmente. Sobrou, então, para a minoria feita com irrigação, os produtores da Zona da Mata e para os outros estados o dever de abastecer este ano”, afirmou.