Devoção, popularidade e costumes ligados a Santo Antão


 Tudo o que nós conhecemos sobre a vida de Santo Antão, devemos a seu grande amigo e discípulo Santo Atanásio, que foi Bispo de Alexandria – importante Cidade localizada ao norte da África – e grande defensor da divindade de Cristo, no Concílio de Nicéia, realizado no ano 325.
Santo Atanásio teve oportunidade de visitar, algumas vezes, o santo eremita, no deserto; e dez anos depois que Antão morreu, Atanásio escreveu a vida de seu amigo:
“Vita (Sancti) Antonii” – “Vida de Santo Antônio”. Isto mesmo, Santo Antônio. Veja a explicação: Em todas as outras línguas, menos a portuguesa, tanto Santo Antônio de Pádua como Santo Antão são conhecidos por “Santo Antônio”. Na nossa língua portuguesa aconteceu um fato singular: na época em que apareceu Santo Antônio de Pádua (séc. 12/13), que nasceu em Lisboa-Portugal, e por isso é conhecido em Portugal por Santo Antônio de Lisboa, Santo Antão era também muito popular; para distinguir os dois, houve uma contração, ou seja, uma diminuição de sílabas na palavra “Antônio”, e então Santo Antônio Abade (o nosso) ficou sendo carinhosamente conhecido por Santo Antão, enquanto o outro manteve o nome de Santo Antônio de Pádua ou Lisboa. Em todas as outras línguas, menos a portuguesa, o nosso Santo Antão ainda hoje é conhecido por Santo Antônio Abade.
É então Santo Atanásio quem nos revela a grandeza e a simplicidade deste homem que esteve sempre tão perto de Deus. Todos os outros biógrafos de Santo Antão vão buscar seus conhecimentos e informações na “Vita (Sancti) Antonii” escrita por Santo Atanásio. Tão amigo era Antão de Atanásio que por várias vezes escreveu ao Imperador Constantino, pedindo para que reconduzisse o seu Bispo amigo à sua Diocese, pois este havia sido exilado por Constantino. Dos 45 anos que esteve como Bispo em Alexandria, Atanásio viveu 17 no exílio, pois foi exilado cinco vezes, sempre por defender a divindade de Cristo, contra o Arianismo. O exílio o ajudou a conhecer bem a vida de Antão, pois viveu experiência semelhante, quando durante sete anos dos 17 que esteve no exílio, viveu entre os monges do Egito.
O culto de Santo Antão começou quando ele ainda estava vivo. Basta lembrar as romarias e visitas de que tratamos em capítulos anteriores, que eram feitas ao santo eremita, para pedir conselhos, orações, e favores. Os romeiros e admiradores logo viam transformada a tristeza em alegria, se sentiam curados de suas enfermidades, e eram inundados de muita paz, pois, na sua presença desapareciam as preocupações meramente humanas. Aqueles que vinham pedir-lhe conselhos, os recebiam com agrado, e uma só palavra sua de bondade era suficiente para fazer desaparecer qualquer dúvida ou escuridão interior.
Santo Antão foi venerado de modo particular como protetor contra a peste e doenças contagiosas, principalmente uma doença existente na época com o nome de “Fogo de Santo Antão”.
Depois de sua morte e com a divulgação de sua vida, feita por Santo Atanásio, foram numerosos os hospitais, Confrarias, Oratórios e Igrejas que receberam o seu nome. Como reflexo do culto popular de Santo Antão no Ocidente, e devido à sua fama de curar doenças contagiosas e epidemias, surgiu uma Congregação Religiosa que tinha o carisma especial de cuidar dos doentes, sobretudo aqueles que eram atingidos por epidemias e doenças contagiosas. Trata-se da “Ordem Hospitalar dos Antonianos”, que tinha como insígnia o bastão ou cajado em forma de cruz (T), que era atribuído tradicionalmente a Santo Antão. Para assegurar a subsistência de seus hospitais, os religiosos “antonianos” criavam porcos, que perambulavam pelas ruas, e eram mantidos pela caridade pública, pelos restos de comida jogados pelas famílias. Muita gente, imitando o costume dos “antonianos”, começou a criar porcos soltos nas ruas das cidades. Foi necessário então que a autoridade civil promulgasse uma lei proibindo criar porcos soltos na rua, com exceção dos porcos dos hospitais antonianos, os quais, para serem identificados, deviam levar uma campainha, um chocalho, preso ao pescoço. Em alguns lugares da Europa, ainda hoje existe o costume de se criar, durante o ano, às custas da coletividade, o “porco de Santo Antão”, que é leiloado para cobrir os gastos da festa do santo.

Provavelmente temos aí, nos porcos criados pelos hospitais antonianos, a origem e a explicação do simpático porquinho que vemos sempre aos pés da imagem de Santo Antão. 
Alguns ditos populares italianos ligados ao porquinho de Santo Antão, permaneceram durante muito tempo no linguajar do povo: De alguém ferido por acidente mortal ou coisa semelhante, se dizia: “Deve ter roubado um porco de Santo Antão”; ao passo que do malandro sem disposição para trabalhar, mendigando o pão de cada dia, se dizia: “Vai de porta em porta como o porco de Santo Antão”.
A partir de um certo momento, foram colocados sob a proteção de Santo Antão, os porcos e depois todos os animais domésticos. Na Itália antiga, no dia 17 de janeiro, se fazia a bênção de animais domésticos, que era acompanhada por festejos populares, entre os quais, desfiles de cavalos. Em Roma, a bênção de animais era feita sobretudo na Igreja de Santo Euzébio. Ainda hoje, em Pinerolo-Itália, depois da bênção de animais, se realiza a corrida de cavalos.
Um fato singular que se prende à devoção popular de Santo Antão, é a fogueira que hoje se faz na véspera da festa de Santo Antônio de Pádua. Devido à fama de Santo Antão de curar pestes e outras doenças, de modo especial a doença que tinha na época o nome de “Fogo de Santo Antão”, surgiu o costume de se fazer uma grande fogueira (a fogueira de Santo An tão) na véspera da festa do santo, 16 de janeiro. Depois que se queimava a lenha, os fiéis recolhiam as cinzas e os carvões que conservavam como relíquias. Com o advento de Santo Antônio de Pádua, o seu culto foi se tornando muito popular, e o outro Santo Antônio (o nosso Santo Antão) foi perdendo a sua popularidade; e então a fogueira que se fazia na véspera de Santo Antão, ficou sendo feita até hoje na véspera de Santo Antônio de Pádua.
Era também comum o uso de se oferecerem à Igreja, por ocasião da festa do Santo eremita, presentes que eram vendidos em benefício dos pobres e dos hospitais antonianos, e também distribuir imagens do santo; na oportunidade ainda se distribuíam pãezinhos com os pobres (os pães de Santo Antônio Abade), costume este que também depois foi transferido para Santo Antônio de Pádua.
Podemos então constatar que Santo Antônio de Pádua, além de sua popularidade própria, atraiu para si e herdou definitivamente a popularidade de Santo Antão, em razão sobretudo da identidade de nomes. E no caso da fogueira, o próprio costume de se fazer fogueira nas festas de São Pedro e São João, atraiu a fogueira de Santo Antão que se fazia no dia 16 de janeiro, para a festa de Santo Antônio, em junho, o mês das fogueiras e das festas juninas.
 Não existe retrato de Santo Antão, pois naquele tempo não se tinha ainda inventado a fotografia. Nem tão pouco Atanásio fez a descrição física do amigo. O que temos é o retrato que a imaginação dos artistas criou sob a impressão do que é conhecido a respeito de seu caráter e de sua vida, pelo testemunho que nos deixou seu discípulo e amigo, Santo Atanásio.
Mestres italianos e espanhóis, holandeses e flamengos, franceses e germânicos, todos tentaram criar com seus trabalhos artísticos, o perfil, o rosto desconhecido do santo da renúncia.
Quanto à imagem de Santo Antão, nós o vemos representado de várias maneiras. Na Matriz de Santo Antão, ele é representado de maneira triunfalista, como um Abade, um Bispo vestido com vestes solenes, em tamanho natural, com Mitra, Capa de Asperges, Báculo e Cruz peitoral. É bom lembrar que Santo Antão nunca foi Bispo nem padre: nunca recebeu o Sacramento da Ordem.
Contrastando com a rica e bela imagem que se encontra na Matriz, e cuja fotografia nós vemos na capa deste livro, temos no Instituto Histórico e Geográfico da Vitória, uma tosca imagem muito antiga, em tamanho pequeno, em que o santo é representado com uma túnica bem simples, capuz, livro, e porquinho.
Podemos ainda encontrar algumas imagens do santo, e elas podem ser adquiridas em casas de artigos religiosos e sobretudo na sala de atendimento da Matriz de Santo Antão, onde ele é representado como um eremita; com túnica, capuz, cajado em forma de cruz egípcia (T), um livro na mão e o porquinho. Em todas as suas imagens aparece sempre o simpático porquinho deitado aos pés do santo. E em algumas imagens aparece também a campa do mendigo. 
Os artistas imortalizaram Santo Antão com suas obras de arte.
A Igreja o imortalizou colocando-o na galeria de seus santos ilustres.
E os moradores da Vitória de Santo Antão, enquanto o Oriente e o Ocidente se unem para celebrar as maravilhas que Deus operou em seu servo Antão, param suas atividades aos 17 de janeiro de cada ano, para festejar o seu Santo Padroeiro, continuando assim uma tradição de três séculos, cantando com alegria, amor, e gratidão: Hino de Santo Antão.



Informações do portal da Paróquia de Santo Antão.