Ser Vitoriense é conhecer: Os causos de José Augusto Ferrer


  
  José Augusto destacava-se antes de tudo pela sua inteligência, austeridade, honestidade e objetividade em tratar aqueles que “orbitam” ao seu lado. Sim, sim… não, não, é seu linguajar, muitas vezes curto e grosso, entremeado de ironias, réplicas ferinas e sarcásticas reflexões. Original senso de humor, adora soltar gracejos, salpicados de uma rica e sonora pornofonia, dirigidos às pessoas com quem tem intimidade.
  Tem também seu lado jocoso. Há inúmeras histórias sobre ele. Algumas, talvez verdadeiras, outras com certeza, fruto da imaginação popular. Verdade ou não, elas caíram no conhecimento e gosto do povo, tornaram-se anedóticas e folclóricas e correm de boca em boca.
– Aquele indivíduo que ansiosamente o procura e pede-lhe uma ajuda para comprar o enxoval do filho que estava prestes a nascer. Com sua presença de espírito respondeu: na hora de fazer, não me procurou para ajudar.

– O expediente na Primitivo de Miranda encerrava à uma da manhã nos dias de semana. Nos finais ia até o dia amanhecer. Determinado dia, José Augusto foi tomar umas e outras com o Delegado, seu amigo Major Expedito. A mesa foi cercada e ocupada pelas alegres meninas. Alta hora da noite, já passava d uma hora, eis que adentram no bar os soldados da ronda policial que deveriam fechar os estabelecimentos. Deparando-se com o Prefeito e o Delegado ficaram embasbacados. Os dois se olharam, sorriram e o Delegado de alto e bom tom, usando sua autoridade, proclamou que o expediente estava prorrogado.

– D’ outra feita participava de uma cerimônia cívica com outras autoridades. O Prefeito de Olinda, na época Barreto Guimarães que chegou bionicamente ao cargo de Vice-governador do estado, do alto de sua empáfia disse, dirigindo-se a José Augusto: ser Prefeito é uma coisa muito importante. Ao que Ferrer respondeu: é melhor ser corno que ser Prefeito. Corno é a  vida toda e prefeito só são quatro anos.

– A inauguração dos sanitários do CIBRAZÉM não merecia, segundo ele, nenhuma pompa. Não houve discursos, nem fitas, nem fanfarras. O Prefeito chegando para a cerimônia foi logo perguntando: como se inaugura uma toilette? Diante do mutismo dos presentes, deu-lhes de ombro e penetrou nos sanitários. Logo, logo, saiu. Mirando-os, arrematou: dei a primeira mijada. Estão inaugurados.

– Antes de um comício no Livramento contou que foi procurado por um eleitor que lhe pediu um empréstimo para trocar seu sítio. Fui ver o sítio. Chegando lá, ele me mostrou as demarcações da propriedade. Olhei para um lado e para outro e iniciei uma mijada. Antes de acabá-la já tinha percorrido o sítio todo.

– Descrente de catimbó ou macumba não perde a oportunidade para provocar seus mestres. Um dia apareceu no terraço de sua fazenda em Pombos um macumbeiro, propondo-lhe um serviço que afastaria todas as serpentes dos currais. Encarando o apregoador de feitos miraculosos, fez-lhe uma resposta: pago-lhe  quatro vezes mais o que você iria me pedir, para que me faça o serviço contrário, atraia o máximo de cobras para dentro dos cercados.

– Um outro pede-lhe ajuda para comprar uma bomba para irrigar a propriedade. Ele o autoriza a comprar uma bomba em casa comercial da Vitória. Dias depois reencontra o beneficiado e lhe indaga sobre a bomba e os resultados da irrigação. O indivíduo com a cara mais cínica responde, seu Zé, não dá para me desenrolar as mangueiras? Sem hesitar, José Augusto foi baixando as vistas e perguntando: você não quer esta mangueira aqui, não?

– Renato Uchoa, amigo e funcionário da Prefeitura vem pedir-lhe autorização para a confecção de dois  pares de placas para serem colocadas em uma rua escolhida para homenagear determinado intelectual vitoriense e que em vida, segundo às más línguas, levara muitas “gaias”. Sentado em seu “bureau”, fixando os olhos no funcionário arrematou: Renato vai ao matadouro, recolhe duas páreas de chifres e prega-as em cada esquina e  a rua estará bem identificada.

– A Câmara de Vereadores escolhe uma rua para homenagear Padre Vasco, antigo vigário da Vitória, tio do não menos famoso Padre Pita e muito amigo de seu genitor. Olhando as placas Zé sapecou: este? Não o homenageio. Ele propalava aos quatros ventos ser pai de Nô Ferrer.


Outras poderiam ser acrescentadas, entretanto o espaço é pouco.


Ligeiros dados Biográficos

  José Augusto Ferrer de Morais nasceu em 30 de janeiro de 1927, em Vitória de Santo Antão, filho de Áuerea e Severino Ferrer de Morais, fundador do Engarrafamento Pitú.
  José Augusto foi um grande Empresário, Prefeito da Vitória por duas vezes (1959 a 1968; 1969 a 1972), e Deputado Estadual.
“Zé Augusto” faleceu em 14 de maio de 2009, aos 82 anos.






Extraído do Livro: José Augusto Ferrer- Sim, sim… Não, não!