Movimentos sociais no campo – As Ligas Camponesas

O organizador das Ligas Camponesas Francisco Julião, de terno escuro, com 
Zezé da Galiléia, um dos líderes do movimento. 
Pernambuco, 8 out. 1959 (Foto: O Globo)
Foi principalmente no governo JK que começou a ganhar evidência um dos mais novos atores na cena política brasileira, o campesinato. Até então restritos ao interior das propriedades, sujeitos à dominação dos grandes senhores, os camponeses começaram a se mobilizar, e a se organizar, lutando por direitos e por terra. É certo que esse processo se iniciou bem anteriormente, pelo menos nos anos 1940. Contudo, foi apenas na segunda metade da década de 1950 que passou a ter maior visibilidade, ocupando as primeiras páginas dos jornais, impondo-se ao debate político, projetando os camponeses nas cidades, nos centros de tomadas de decisão.

Na verdade, se isso se deu, o crédito se deve menos ao governo JK e mais à própria dinâmica dos movimentos sociais no campo. Apesar da presença e das pressões do PTB, seu aliado, JK, oriundo do PSD, partido de forte representação dos interesses agrários, experimentado nas turbulências que o ameaçaram até assumir o governo, optou por evitar tensões desestabilizadoras que certamente adviriam de qualquer medida que pudesse afetar as tradicionais relações de poder existentes no campo. Portanto, não se originou de seu governo nenhum movimento no sentido de efetivamente promover políticas destinadas a reformar a estrutura de propriedade da terra, base do poder dos grandes proprietários. De toda forma, deve-se destacar que uma de suas políticas, a de estimular o desenvolvimento regional do Nordeste via criação da Sudene, terminou por conferir, como um efeito não previsto, uma forte visibilidade a uma das organizações do campesinato, as Ligas Camponesas.

As Ligas tinham suas origens na luta dos foreiros do Engenho Galiléia, em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco.

Nesse contexto, a mobilização no campo passou a ser vista como resposta lógica, como conseqüência inevitável da situação existente, e, mais do que isso, como uma antecipação do que ocorreria no país como um todo, caso não se realizasse uma reforma agrária. Tal era o sentido dos versos do “Hino do Camponês”, composto por Francisco Julião ainda em fins dos anos 1950:

“Não queremos viver na escravidão
Nem deixar o campo onde nascemos
Pela terra, pela paz e pelo pão:
Companheiros, unidos venceremos.

Hoje somos milhões de oprimidos
Sob o peso terrível do cambão
Lutando, nós seremos redimidos.
A Reforma Agrária é a solução.” 




CONTINUA…

Fonte: www.passeiweb.com