Há 11 anos em Vitória…

Porque sou Vitória de Santo Antão

 Seis de maio de 2000 – hoje é meu aniversário e estou muito feliz, porque apagar 157 velinhas é privilégio de poucos. Nasci do dia 6 de maio de 1843.
 Sou do signo de touro. Sou guerreira e destemida. Já expulsei daqui os holandeses no ano de 1645, antes mesmo de me tornar cidade, contribuindo para a nobre causa da independência do Brasil, na memorável batalha do Monte das Tabocas.
 Estive ainda presente na guerra dos Mascates – esse movimento que eclodiu em Pernambuco no ano de 1970, teve inicio por aqui.
 A História se refere costumeiramente à data de 10 de novembro como o grito da República, nascido em Olinda. No entanto, o seu começo teve lugar na Vila Santo Antão, através do Capitão – mor Pedro Ribeiro da Silva. Na revolução de 1917, também me fiz presente. Este evento eclodiu no Recife, no dia 6 de março de 1817. Enviamos um contingente para o Recife a fim de tomar parte na luta.
 A guerra que o Brasil manteve com Paraguai ensejou a mobilização de brasileiros de todas as classes sociais. E aquela ocasião se apresentou minha jovem filha Mariana Amália do Rego Barreto, que sensibilizou toda a população, dispondo – se a se alistar no Batalhão de Voluntários. Mariana Amália é, incontestavelmente, uma heroína desta terra. Seu feito deve ser lembrado às novas gerações para servir de exemplo.
 Neste século, na década de 60, fui berço das Ligas Camponesas que foram combatidas fortemente pelos latifundiários. Logo, porém, se expandiram por diversos municípios e se estenderam por todo Brasil. A sua bandeira em prol da posse da terra para fixar o homem no campo, acha – se presente em plena efervescência, com a denominação nacional de “Movimento dos sem Terra”.
 Como toda mãe, sou amável e receptiva . Tento de alguma forma abraçar os muitos que aqui nasceram ou vieram buscar sobrevivência em meu solo. Nunca neguei colo àqueles que me procuram.
 A modernidade mexe com a minha cabeça, haja vista a Avenida Mariana Amália – a mais famosa da cidade – e a Avenida Silva Jardim. Foram presentes que me deram prefeitos competentes e bons administradores.
 Já fui visitada por Presidentes da República, Ministros e até por um Rei e uma Rainha. No ano de 1859, suas Majestades Imperiais D. Pedro II e a sua consorte D. Teresa Cristina hospedaram – se no prédio que serve atualmente de sede ao Instituto Histórico. Conheceram a cidade, visitando escolas, repartições públicas e a Igreja Matriz, seguindo depois para o Monte das Tabocas.
 Sou a cidade do interior de Pernambuco que deu maior número de Ministros ao Brasil.
 A população cresceu muito nas últimas quatro décadas, bem como o comércio.
 Abrigo a maior população e o maior colégio eleitoral de todo o Estado.
 Apesar da confusa e cinzenta paisagem que se observa no aspecto urbanístico, ainda tenho um charme especial: meus monumentos, que chamam a atenção dos turistas e dos meus filhos legítimos. Eles ficam na memória da minha gente que aqui passa, fica ou parte. Quem não admira e até contempla o quase secular Anjo das Tabocas, o famoso Leão Coroado ou a histórica Pirâmide da Matriz, a encantadora Matriz de Santo Antão, cujo templo representa um belíssimo monumento?
 Felizmente meus diletos filhos tratam muito bem a educação, saúde e cultura. São segmentos essenciais que tanto me preocupava: e que agora me envaidecem. A mortalidade infantil caiu consideravelmente e já estou bem próxima de comemorar a erradicação do analfabetismo.
 O Instituto Histórico é, na verdade, um cartão postal. Do seu fundador até seu atual presidente, Prof. Eunice de Vasconceslo Xavier, todos que por lá passaram não se descuidaram de preservar a minha memória.
 Agradeço ao meu amado filho Prof. José Aragão que escreveu com muito amor a minha História, em três volumes, realizando um trabalho perfeito desde a fundação do município em 1626, até o ano de 1982.
 No começo me chamavam de Santa Antão, Cidade de Braga, Vila de Santo Antão e Victória. Hoje me chamam de Terra da Pitú, Terra do Carnaval, Terra das Tabocas. Podem me chamar como acharem melhor – até aprecio e sinto – me deveras envaidecida. O importante é que meu nome fique em evidência, permitindo que eu possa dizer com imenso orgulho aos meus netos, bisnetos e treta netos que sempre fui famosa, respeitada e hospitaleira; que dei calor e abrigo a muita gente, com quem partilhei sucessos e insucessos, alegrias e tristezas, e que serei por natureza, predestinada a contabilizar: vitórias, vitórias e mais vitórias porque, brosamente, meu nome é Vitória de Santo Antão, contando com a bênção do eremita, o glorioso Santo Antão.
                                                       João Albuquerque Álvares, empresário e jornalista.

Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santa Antão, Edição nº XIII – Novembro de 2000.