O longa fala sobre a queda dos engenhos
Propriedade será cenário exatamente como está, inclusive, com o mobiliário original. (Foto: Tiago Melo/Divulgação) |
Casa-grande, senzala e canavial são os três principais cenários de Açúcar, novo filme dirigido por Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, que começa a ser rodado nesta quarta-feira, na zona rural de Vitória de Santo Antão, interior de Pernambuco. Interpretada por Maeve Jinkings (O som ao redor), a personagem principal é Betânia, herdeira de um engenho em estado de “fogo morto”, prestes a se transformar em ruínas. Maeve também trabalhou com Renata e Oliveira em Amor, plástico e barulho, pelo qual ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília em 2013.
A nova personagem, que tem boa formação, resiste em vender o engenho, ao mesmo tempo em que procura reerguer a própria vida. As filmagens serão feitas em uma propriedade da família de Renata. “O engenho está para desabar. A casa de açúcar está ruindo. Levar aquele lugar para o cinema é uma forma de preservação. É importante preservar para que essa estrutura escravagista não se repita”, interpreta a cineasta.
A ação é ambientada nos dias atuais. A atriz paulista Magali Biff (consagrada no teatro por peças de diretores como Gerald Thomas) viverá uma prima de Betânia que chega de São Paulo. Sua visita coincide com um momento-limite, quando os trabalhadores, que vivem onde existia a senzala, conquistam mais autonomia, com apoio de ONG holandesa.
O líder da comunidade de trabalhadores será interpretado pelo ator potiguar José Maria Alves (Sonhos de peixe, do russo Kirill Mikhanovsky). Também estão no elenco Dandara de Morais (Malhação) e Roger de Renor, como um usineiro.“Ele vai estar bem coxinha, reacionário e racista”, antecipa Sérgio Oliveira.
“O filme é sensorial e o som vai contribuir para isso”, prevê Renata, que trabalhará com o designer sonoro argentino Manu de Andrés.
Elementos da cultura afro-brasileira estarão presentes de forma marcante. Haverá ainda um barco estacionado no canavial, como se a cana representasse a água do mar. Para Renata, “o capitalismo os deixou.
Sérgio Oliveira tem projeto para 2015, o longa Carro rei. (Foto: Jô Calazans/Divulgação) |
Produção cooperativa
“Resolvemos começar a filmar logo, sem fundos, por causa da situação precária da casa do engenho”, explica Sérgio Oliveira. O filme, que será rodado em 15 dias, não tem patrocínio e nem incentivo de editais ou fundos de cultura. “O tempo de filmagem é considerado pouco para os padrões de longas, mas é possível pois as locações serão no mesmo lugar”, calcula o produtor Tiago Melo. O elenco e a equipe trabalham com cachês simbólicos. A câmera digital Alexa (uma das mais avançadas do mercado) foi viabilizada por meio de um edital do Centro Técnico Audiovisual do Rio de Janeiro. O diretor de fotografia é o premiado argentino Fernando Locket. Cris Garrido (Tatuagem) é a figurinista.
Um por ano
Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira estão próximos de alcançarem a meta de lançar um longa-metragem por ano. Por meio da produtora Aroma Filmes, eles trabalham juntos e revezam-se na direção dos filmes. Amor, plástico e barulho (dirigido por ela e produzido por ele), que entrará em cartaz nos cinemas no segundo semestre, foi lançado em 2013 no Festival de Brasília. Em 2014, eles ainda devem lançar Orquestra arcoverdense de ritmos americanos, documentário sobre a banda Super Oara que está em fase de montagem (direção de Sérgio). Em 2015, filmarão Carro rei (direção de Renata), a maior produção da dupla, com humanos e automóveis que falam. O longa Estradeiros e os premiados curtas Superbarroco (exibido em Cannes), Praça Walt Disney, Porcos corpos e Faço de mim o que quero também estão no currículo da Aroma.
Qual é esse engenho?
Parabéns aos artistas de nossa terrinha que faram parte deste grande trabalho…