A pesquisa “A interiorização recente das instituições públicas e gratuitas de ensino superior no Nordeste: efeitos e mudanças”, revelou as condições atuais dos campi dos institutos federais de educação superior do interior do Nordeste. O trabalho foi realizado pelos pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Patrícia Bandeira de Melo e Luis Henrique Romani de Campos.
As 15 cidades contempladas pela pesquisa estão localizadas no interior do Nordeste: Angicos (RN), Arapiraca (AL), Barreiras (BA), Bom Jesus (BA), Cachoeira (BA), Caruaru (PE), Cuité (PB), Garanhuns (PE), Laranjeiras (SE), Petrolina (PE), Juazeiro (BA), Rio Tinto (PB), Serra Talhada (PE), Sobral (CE) e Vitória de Santo Antão (PE).
Desenvolvida entre 2010 e 2014, o trabalho exploratório discutiu as condições do desenvolvimento da política de interiorização das instituições federais de ensino superior (IFEs).
Durante a execução da pesquisa, os pesquisadores investigaram com 256 professores, 1628 alunos e 201 egressos das universidades situadas nos novos campi, qual a compreensão e a magnitude que o processo adquiriu desde 2003, quando teve início a ampliação do número de unidades de ensino público superior no País.
Perfil estudantil
A melhor notícia, resultante da pesquisa, é que os estudantes beneficiados com a interiorização das IFEs, mesmo com um perfil socioeconômico próprio das classes de renda baixa, estão construindo uma nova trajetória de vida.
Conforme indicam os resultados da pesquisa, 35,7% das mães dos universitários matriculados têm até o ensino fundamental completo e os pais de 83,1% dos estudantes não tiveram acesso à universidade.
Segundo o estudo, “o grau de escolaridade predominante dos pais desses jovens, entretanto, é o ensino médio, e eles pertencem a famílias de classe econômicas D e E”.
O estudo demonstrou, ainda, “que o predomínio nas unidades interiorizadas é de jovens pardos, solteiros, sem filhos, que moram com os pais, com idade entre 20 e 25 anos, cujo sexo feminino é maioria na faixa etária de até 20 anos. Jovens que estudaram grande parte do ensino médio em escolas públicas”.
Uma observação que vale ressaltar é a de que, uma média de 55,6% dos estudantes migra, sobretudo, entre regiões do mesmo Estado para cursar o ensino superior numa universidade federal.
Perfil docente
Quanto aos professores, o trabalho dos pesquisadores da Fundaj avaliou outras questões.“Verificamos que, a infraestrutura que as IFEs dispõem para realização do trabalho docente, precisa ser aprimorada, de acordo com as entrevistas”, destacam Patrícia Bandeira e Luis Henrique Romani.
Eles explicam que, os docentes ouvidos na pesquisa qualificam como apropriadas apenas 24,6% das instalações para laboratórios, salas para grupos de pesquisa, núcleos e atendimento a alunos; 32% das salas de professores; 12,2% dos espaços físicos reservados para realização de pesquisa; 23% dos equipamentos e materiais disponíveis para pesquisa.
Os pesquisadores da Fundaj apontam que, “entretanto, em algumas unidades estes equipamentos ainda não estão em funcionamento, conforme informaram os docentes”. Uma boa notícia revelada pela pesquisa é a de que no quesito infraestrutura, as bibliotecas foram as áreas mais bem avaliadas.
Resultados
Uma das conclusões da pesquisa é que, mesmo com a dificuldade avaliada do chamado imperativo do produtivismo acadêmico, que foi identificado como um problema, a maioria dos professores, ou seja, 57% dos docentes entrevistados se mostram satisfeitos com a carreira acadêmica.
Pernambuco
Como um caso particular, por exemplo, a pesquisa revelou a necessidade da Unidade Acadêmica de Garanhuns, da UFRPE, melhorar suas relações de cooperação, que se mostraram limitadas e frágeis com o tecido produtivo e institucional – até pela unidade se situar distante do centro da cidade.
Segundo os pesquisadores, “a situação do município de Garanhuns, porém, pode servir de modelo para se pensar outros pólos produtivos. A postura adotada pelo Ministério da Educação (MEC), indica o reconhecimento da contribuição importante de um campus universitário para arranjos produtivos locais em todo o País”.
— Caso: Vitória de Santo Antão (PE)
“O projeto de interiorização das universidades federais no Nordeste – como deve ocorrer no resto do Brasil – promoveu mudanças na qualidade de vida dos egressos do ensino superior”, na opinião dos autores da pesquisa.
Eles contam que, “também a título de exemplo, no caso do Centro Acadêmico de Vitória de Santo Antão (PE), os entrevistados descrevem suas trajetórias, apontando avanços relevantes em sua qualidade de vida após o ingresso no ensino superior”.
Para Luiz Henrique Romani e Patrícia Bandeira, “houve melhoria de renda e acesso a bens culturais, como teatros e museus”.