Pernambuco, em 1º de abril, registrava 95 casos confirmados de pacientes com o novo coronavírus em 12 municípios e em Fernando de Noronha. No dia 30, o estado tinha 6.876 casos de Covid-19, espalhados por 120 municípios pernambucanos, além do arquipélago. Um estudo da Fundação Joaquim Nabuco identificou que as rodovias BR-232 e BR-101 serviram como “caminhos” para a disseminação do vírus no estado.
Um mapa criado por pesquisadores da Fundaj vem acompanhando o avanço da doença. O pesquisador da Fundaj e coordenador do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados para a Pesquisa Social (CIEG), Neison Freire, explicou que, em abril, eles incluíram ao estudo as rodovias que cortam ao estado.
“Nós verificamos quando colocamos no mapa as estradas e as cidades que, ao longo do mês, o padrão espacial do avanço da contaminação seguia o padrão das cidades às margens dessas rodovias”, apontou.
A BR-232 é a principal rodovia em direção ao Agreste e Sertão pernambucanos. A BR-101 faz o percurso pelo litoral em direção à Paraíba, ao norte, e ao estado de Alagoas, ao sul. Em meados de abril, foram instaladas barreiras sanitárias em Alagoas, na divisa com Pernambuco, como medida para conter o avanço da doença.
“Recife não é o epicentro só de Pernambuco. Capitais vizinhas estão na órbita de influência [do Recife]. O vírus se espalha pela rede de cidades. Aqui é diferente da China: as cidades maiores que concentram o maior número de casos e contaminam as cidades menores”, afirmou o pesquisador.
Freire, que também analisa o avanço do novo coronavírus nos estados vizinhos, apontou que o maior número de casos está em Pernambuco. Até o sábado (2), Alagoas tinha 1.371 casos e 58 mortes provocadas pelo novo coronavírus. Paraíba contava com 1.169 confirmados e 76 mortes por coronavírus.
“Em Pernambuco, a pandemia se espalhou e se densificou mais que seus estados vizinhos. Foi adotado isolamento social, mas houve um relaxamento e isso, junto a circulação de pessoas, também favoreceu a esse grande número de pessoas contaminadas ao final do mês de abril”, disse.
Apesar das medidas restritivas de fechamento dos serviços não essenciais e suspensão de aulas, decretadas pelo governo estadual, a população circula pelo estado, relatou Freire.
“Ainda temos pessoas que têm parentes e viajam, que tem algum negócio que não foi afetado pela quarentena, que precisa de assistência médica que não seja da pandemia e vai para o Recife. Basta ver que essas rodovias não têm apenas circulação de mercadorias, tem de pessoas também”, lembrou o pesquisador.
Inicialmente, o contágio se deu por proximidade e a alta densidade populacional da capital e da Região Metropolitana contribuíram para isso. “Recife tem uma alta densidade populacional e o contágio se deu por difusão. Logo após essa fase, a partir de meados de abril, a pandemia ‘buscou’ outros vetores, não mais apenas o contágio por difusão, aquele que está próximo por você”, disse Freire.
Os pesquisadores identificaram que as cidades às margens das duas rodovias começavam a apresentar casos, que aos poucos seguiam para outros municípios. “Essa onda de contaminação veio do litoral, passou pelo Agreste e agora vai para o Sertão”, apontou.
Um dos fatores que podem contribuir, segundo Freire, é o comércio nas feiras que existem no interior do estado. Barreira sanitárias poderiam auxiliar a conter o avanço, com higienização dos veículos, acredita o pesquisador.
“As pessoas continuam circulando, principalmente nas áreas mais distantes do litoral. Existem muitas feiras, pequenas produções de hortaliças, nos entornos dessas cidades e a pequena produção é levada de uma cidade para outra. Existe um comércio ‘intra cidades’ que continua sendo muito intenso, as cidades acordam cedo para essas feiras”, afirmou Freire.
Apesar do avanço da doença pelo estado, os pesquisadores notaram que a Covid-19 ainda não chegou aos locais de maior vulnerabilidade social de Pernambuco.
“Em abril, foi o mês que o vírus se instalou definitivamente no estado. A princípio, nós não observamos a intensificação da pandemia nas áreas de maior vulnerabilidade social. Ela ainda não chegou às favelas e a outros locais de vulnerabilidade social”, relatou.
Entretanto, segundo Freire, a tendência é de que todos os municípios pernambucanos tenham casos confirmados ao longo do mês de maio. “Ainda vamos observar essa evolução. Até agora, não temos diminuição dos números de casos.
Dados
No domingo (3), Pernambuco registrou mais 498 casos do novo coronavírus e 24 óbitos. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, há, atualmente, 8.643 pacientes confirmados para a Covid-19, sendo 5.344 em situação grave e 3.299 casos leves, e 652 óbitos ocasionados pela doença.
G1 Pernambuco