Expressões artísticas evitam rabiscos nas paredes da EREM Guiomar Krause

A Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Guiomar Krause, em Vitória de Santo Antão, é, literalmente, um ambiente acolhedor não só pela limpeza, organização e cordialidade de todos da comunidade escolar, mas pelas pinturas. Em diversas paredes do prédio, desenhos e suas cores vibrantes dão vida e provocam estímulos em quem frequenta o local cuja principal proposta é formar cidadãos. As artes foram idealizadas e pintadas por três estudantes da escola que ainda não se consideram artistas, mas sabem como ninguém aguçar o sentimento de pertencimento nos colegas da cidade.

Em 2015, quando Simone Mota assumiu a gestão da EREM, alguns alunos tinham o hábito de riscar paredes. “Eu não sabia mais o que fazer, somente a conversa não adiantava”, detalha a educadora. Um trabalho de maquete do estudante Carlos Eduardo, hoje do primeiro ano do Ensino Médio, chamou a atenção de Simone pelos detalhes. “O convidei para pintar um dos muros mais riscados da gente e ele topou. O resultado ficou incrível. A arte tem um bom tempo e até o momento nenhum outro estudante rabiscou ou estragou a pintura, que é uma releitura de uma obra de Romero Brito”, conta. 

Carlos Eduardo gosta de trabalhos coloridos e com pincéis. Além da releitura, que fica na escada da escola, ele criou e pintou o brasão da unidade de ensino, asas, a porta de entrada do laboratório de física, entre outros espaços. O adolescente sonha em ser arquiteto e encontrou no convite da gestora uma oportunidade de desenvolver melhor suas habilidades com as artes. “Eu comecei pintando na escola mesmo, nunca me cederam um lugar público. Muitas técnicas de pintura eu aprendi aqui. Simone me pedia uma ideia e eu ia estudar para apresentar um projeto e é bem legal, porque eu aprendo e me divirto ao mesmo tempo”, diz. 

Já Vinícius da Silva Miguel, o estudante que desenhou os quadros das cientistas do laboratório de química e biologia, além da savana nos muros de trás da escola, é especialista em desenhos com lápis e pode ser considerado um artista profissional. Ele já foi contratado por alguns estabelecimentos comerciais da cidade para desenhar nos muros, e recentemente ilustrou o livro paradidático criado por ele e seus colegas de turma, intitulado “Consequências de Um Momento”, lançado pela Editora Liceu. “A escola é mais alguém que dá valor ao que a gente faz. Eu não sei se pretendo seguir essa carreira, mas está sendo muito importante para mim essa visibilidade que estou tendo na EREM”, declara. 

O terceiro estudante, Alisson Correia, é o responsável pelo sistema solar que está sendo pintado no muro de entrada da escola, além de outras artes já concluídas na instituição. Ele é especialista em arte urbana e usa o spray para concretizar suas ideias. “Eu não vejo muito as escolas darem essa oportunidade para os estudantes. Aqui, a gente tem a impressão de que pinta para a gente e para os nossos colegas. Parece que todo mundo se identifica quando uma arte é feita por um amigo de sala”.  

“Depois das primeiras artes, eu comecei a perceber que se tiver pinturas na escola, a depredação diminui bastante. Abri espaço para mais estudantes, e hoje a gente prioriza muito a expressão artística dos adolescentes. Isso mexeu bastante com a estrutura da nossa escola, porque os estudantes passaram a valorizar bem mais o ambiente, o sentimento de pertencimento foi aflorado. Hoje, os alunos postam fotos das pinturas nas redes sociais, têm orgulho daqui”, acrescenta Simone.

Fotos: Kleyvson Santos/SEE

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