O Centro de Assistência Toxicológica de Pernambuco (Ceatox) registrou 4.707 ocorrências em 2018, uma ampliação de 3,7% em relação a 2017, quando ocorreram 4.537 casos. O órgão atua sete dias por semana, durante 24 horas, para auxiliar os profissionais de saúde e a população em casos de intoxicações e acidentes com animais peçonhentos. O atendimento é feito por telefone, pelo 0800-722-6001 pela equipe multiprofissional, que orienta a conduta a ser adotada de acordo com cada situação.
Do total de ocorrências em 2018, 43% foram relacionadas a acidentes com animais peçonhentos e venenosos. Ao todo, foram 2.028 casos, a maioria envolvendo escorpiões (1.349) e serpentes (493). “Orientamos o que fazer em caso de picadas ou acidentes com serpentes peçonhentas e qual unidade de saúde procurar para que seja aplicado o soro antiofídico. Quanto mais rápida a assistência for dada, menor o risco de sequelas e óbitos”, diz a coordenadora do Ceatox, Lucineide Porto.
Já o soro contra picada de escorpião é indicado apenas nos casos moderados e graves que podem acontecer em crianças de até 12 anos com risco de morte. Para os demais, a indicação é ir até uma unidade de saúde para tratar a dor local. “Existem muitos mitos do que fazer em caso de acidente com animais peçonhentos. Mas o indicado é lavar a área com água e sabão e procurar uma unidade de saúde. A central telefônica do Ceatox também está à disposição para tirar as dúvidas e dar o suporte necessário”, frisa Lucineide.
Além dos acidentes com animais peçonhentos, destacam-se as intoxicaçõe envolvendo medicamentos, que totalizaram 1.292 ocorrências em 2018. A principal preocupação do Ceatox é com os casos envolvendo crianças. “Os pais ou responsáveis precisam ficar atentos ao armazenamento dos fármacos, que muitas vezes são coloridos e podem ser confundidos por alguma guloseima. É importante que os medicamentos de uso contínuo sejam guardados em armários altos e com chave. Também é preciso sempre averiguar a data de validade, para fazer o descarte correto sempre que necessário”, reforça a coordenadora do Centro. Ainda é preciso alertar para a medicação sem orientação médica ou com o uso da dosagem errada, o que pode prejudicar ainda mais o quadro clínico.
O Ceatox também lembra a gravidade dos casos envolvendo o agrotóxico agrícola popularmente conhecido como “chumbinho” e vendido erroneamente como raticida. Por ser um produto comercializado criminosamente e clandestinamente, não se sabe exatamente sua composição, o que dificulta na hora da assistência. Basta contato com a pele ou respiração para que ocorra a intoxicação, agravada quando há ingestão. “O chumbinho pode causar problemas no sistema nervoso, respiratório, cardiovascular, digestivo, matando em poucas horas. Orientamos que ninguém compre o produto, além de denunciar aos órgãos competentes a venda”, avisa Lucineide. Em 2018, o Ceatox atendeu 313 ocorrências relacionadas ao chumbinho.
Referências para tratamento de acidentes com animais peçonhentos em Pernambuco:
Hospital da Restauração – Recife (cobra e escorpião)
Hospital Jaboatão Prazeres – Jaboatão dos Guararapes (escorpião)
Hospital João Murilo – Vitória de Santo Antão (escorpião)
Hospital Belarmino Correia – Goiana (escorpião)
Hospital Mestre Vitalino – Caruaru (cobra e escorpião)
Hospital Regional Ruy de Barros Correia – Arcoverde (cobra e escorpião)
Hospital Professor Agamenon Magalhães – Serra Talhada (cobra e escorpião)
Hospital Regional Inácio de Sá – Salgueiro (cobra e escorpião)
Hospital Regional Fernando Bezerra – Ouricuri(cobra e escorpião)
Hospital Universitário – Petrolina (cobra e escorpião)
Como evitar acidentes com animais peçonhentos:
No amanhecer e no entardecer, evitar a aproximação da vegetação muito próxima ao chão, gramados ou até mesmo jardins, pois é nesse momento que serpentes estão em maior atividade;
Não mexer em colmeias e vespeiros. Caso estejam em áreas de risco de acidente, contatar a autoridade local competente para a remoção;
Inspecionar calçados, roupas, toalhas de banho e de rosto, roupas de cama, panos de chão e tapetes antes de usá-los;
Afastar camas e berços das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários;
Não depositar ou acumular lixo, entulho e materiais de construção junto às habitações;
Evitar que plantas trepadeiras se encostem às casas e que folhagens entrem pelo telhado ou pelo forro;
Não montar acampamento próximo a áreas onde normalmente há roedores (plantações, pastos ou matos) e, por conseguinte, maior número de serpentes;
Evitar piquenique às margens de rios, lagos ou lagoas, e não encostar-se a barrancos durante pescarias ou outras atividades;
Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede e terrenos baldios (sempre com uso de EPI);
Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés;
Utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos;
Manter limpos os locais próximos das residências, jardins, quintais, paióis e celeiros;
Controlar roedores existentes na área e combater insetos, principalmente baratas (são alimentos para escorpiões e aranhas);
Caso encontre um animal peçonhento, afaste-se com cuidado e evite assustá-lo ou tocá-lo, mesmo que pareça morto, e procure a autoridade de saúde local para orientações.
O que fazer em caso de acidente:
Procure atendimento médico imediatamente;
Informe ao profissional de saúde o máximo possível de características do animal, como: tipo de animal, cor, tamanho, entre outras;
Se possível, e caso tal ação não atrase a ida do paciente ao atendimento médico, lave o local da picada com água e sabão (exceto em acidentes por águas-vivas ou caravelas), mantenha a vítima em repouso e com o membro acometido elevado até a chegada ao pronto socorro;
Em acidentes nas extremidades do corpo, como braços, mãos, pernas e pés, retire acessórios que possam levar à piora do quadro clínico, como anéis, fitas amarradas e calçados apertados;
Não amarre (torniquete) o membro acometido e, muito menos, corte e/ou aplique qualquer tipo de substancia (pó de café, álcool, entre outros) no local da picada;
Especificamente em casos de acidentes com águas-vivas e caravelas, primeiramente, para alívio da dor inicial, use compressas geladas de água do mar. A remoção dos tentáculos aderidos à pele deve ser realizada de forma cuidadosa, preferencialmente com uso de pinça ou lâmina. Procure assistência médica para avaliação clínica do envenenamento e, se necessário, realização de tratamento complementar;
Não tente “chupar o veneno”, essa ação apenas aumenta as chances de infecção local.
Diario de Pernambuco
Foto: Carolina Braga/Esp.DP.