No meio empresarial, promover benefícios socioambientais na comunidade onde atua se torna uma preocupação cada vez maior para as organizações. Neste Natal, tempo de lembrar e destacar a importância de fazer o bem, a Folha de Pernambuco ouviu empresas que levam a sério a responsabilidade social e transformaram seus entornos através de boas práticas. É o caso da Aché, que desenvolve iniciativas de apoio ao esporte, e da Ambev, com projetos de acesso à água no Semiárido.
No meio empresarial, promover benefícios socioambientais na comunidade onde atua se torna uma preocupação cada vez maior para as organizações. Neste Natal, tempo de lembrar e destacar a importância de fazer o bem, a Folha de Pernambuco ouviu empresas que levam a sério a responsabilidade social e transformaram seus entornos através de boas práticas. É o caso da Aché, que desenvolve iniciativas de apoio ao esporte, e da Ambev, com projetos de acesso à água no Semiárido.
Hoje em dia, as empresas definem sustentabilidade pelo tripé: economia, meio social e meio ambiente. “A ideia que está por trás disso é a compreensão de que o objetivo da empresa não é somente ganhar dinheiro, pois existe a responsabilidade socioambiental”, afirma o empresário Oscar Rache, presidente do Instituto Ação Empresarial pela Cidadania.
“Há uns 40 anos, essa ideia de que as empresas precisavam ajudar a sociedade apareceu. Usando os recursos que tinham, as pioneiras ajudavam algumas entidades filantrópicas. O Instituto foi criado em Pernambuco 20 anos atrás, com a ideia de ajudar as empresas na discussão sobre a responsabilidade social, mas indo além de simplesmente ajudar entidades. É preciso que no cerne da empresa, no seu DNA e plano estratégico, esteja essa ideia”, destaca Rache.
Única brasileira a figurar na lista das 135 companhias mais éticas do mundo, divulgada pela Ethisfere, a Natura é uma empresa de cosméticos que construiu um modelo de negócios permeado pela sustentabilidade. Segundo Keyvan Macedo, gerente de sustentabilidade da Natura, o fator é levado em conta desde a concepção do produto até a produção na fábrica e a sua distribuição. A empresa busca ainda aplicar o conceito no lado social, engajando colaboradores, fornecedores, comunidades fornecedoras e o consumidor final.
Isso é observado na própria cadeia de valor. Com a adoção do Programa Amazônia, em 2011, a Natura compra matérias-primas de 34 comunidades locais. De 2010 a 2017, a empresa acumulou mais de R$ 1,2 bilhão em volume de negócios na área. “Um compromisso da Natura é de até 2020 ter 10 mil famílias fornecendo para a Natura. Hoje são 4,7 mil”, disse Macedo.
“Inclusive, em alguns dos produtos, a Natura utiliza do conhecimento tradicional associado. Ou seja, usa a experiência de uma população local que conhecia o uso daquele ativo – semente, manteiga ou óleo -, que dá um benefício funcional. A Natura aprendeu com essas comunidades, desenvolveu o produto e paga para essa comunidade uma repartição do beneficio da venda”, revela. “Existe um potencial de benefícios muito alto ao trabalhar com pequenos produtores. Você tem maior impacto positivo social porque você distribui renda.”
Em outra iniciativa, a companhia também contribui para a educação das consultoras que trabalham com a empresa. “Temos um programa de desenvolvimento como empreendedora, para ser uma consultora especialista de beleza, e também um programa para estimular ela a fazer universidade, curso de idioma e ate mesmo usufruir desse beneficio para seus familiares”, diz.
“Temos uma linha de produtos não cosméticos chamada Crer Para Ver, em que todo lucro que a consultora vende é revertido para projetos de educação para melhorias de ensino publico e para benefícios das próprias consultores”, lembra o gerente. “A educação é uma questão que traz prosperidade para a própria sociedade”, conclui.
A farmacêutica Aché, por sua vez, mal chegou a Pernambuco e já implantou projetos sociais no Cabo de Santo Agostinho. No momento, a Aché está construindo um complexo fabril em Suape, com previsão para conclusão da primeira fase em agosto de 2019. Já o projeto Rede de Núcleos, do Instituto Esporte e Educação (IEE), foi inaugurado em setembro, no bairro Charneca. Trata-se de um núcleo esportivo, com capacidade para atender 180 pessoas.
“O Aché acredita na importância de fortalecer e garantir o acesso ao esporte e inclusão de todos. O IEE reforça a missão do Aché, de levar mais vida às pessoas onde quer que elas estejam. Por meio de oportunidades transformadoras como esta é que contaremos com uma sociedade mais consciente de seus direitos e deveres, mais forte, preparada e atuante”, diz Marcia Tedesco Dal Secco, gerente de comunicação e responsabilidade social.
A indústria de confecções pernambucana Rota do Mar também desenvolve projetos com benefícios sociais. Sediada em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste do Estado, ela implantou três poços artesianos na região de Manari, município com menor IDH de Pernambuco.
“Cada poço tem vazão de 30 litro/hora de água potável. É água em abundância. A gente conseguiu parceiros para levar essa água o mais longe possível para comunidade. Uma empresa fornecedora fez um cano de 3 quilômetros que atinge um raio de 3 quilômetros”, revela Arnaldo Xavier, diretor presidente da Rota do Mar. No Agreste, onde a água é escassa, o acesso ao recurso dá oportunidade aos moradores locais. “Com a implementação dos poços, eles começaram a plantar, colher e lucrar”, conta.
Outra organização que promove iniciativas de acesso à água no Semiárido é a Ambev, que desenvolveu a Água AMA – produto com destinação de 100% do lucro em projetos nessa área. Em setembro deste ano, a Ambev, em parceria com a ONG Cáritas de Pesqueira, construiu cisternas de 52 mil litros em cinco escolas de comunidades rurais no interior de Pernambuco.
Ao todo, 1376 alunos são beneficiados pela ação. Além das cisternas, que armazenam as águas das chuvas que caem dos telhados, foram instalados sistemas de reuso do líquido. Com eles, a água das pias é filtrada e reutilizada para regar uma horta, que serve como merenda escolar para as crianças.
Já a Jeep, com parque fabril instalado em Goiana, investe em educação com o projeto Rota do Saber. De acordo com Luciana Costa, coordenadora de Sustentabilidade da Fiat Chrysler Automobiles para América Latina, o grupo apoiou a capacitação de cerca de oito mil pessoas em parceria com o poder público e instituições de ensino para que os moradores locais pudessem trabalhar na construção da fábrica e, depois, na própria fábrica. A Rota do Saber, no entanto, vai além disso.
“Acreditamos que o que vale para dentro da empresa, vale também para fora, isto é, para a comunidade que nos abriga. A mesma atenção que dedicamos à educação do trabalhador, demonstramos com a educação de seu filho na escola pública, ao fortalecer o ensino público através do programa Rota do Saber”, diz Costa.
Implementado em 2014, antes mesmo da inauguração do Polo Automotivo, o programa educacional visa a melhoria da qualidade do ensino fundamental público nos municípios de Goiana, Igarassu, Paulista e Itambé, em Pernambuco, e Alhandra e Caaporã, na Paraíba. O Rota do Saber abarca 183 escolas, 1,1 mil educadores e 30 mil alunos.
“A metodologia desenvolvida pelo Instituto Qualidade no Ensino abrange a qualificação de gestores pedagógicos e professores pelo prazo de três anos. O município, por sua vez, oferece uma equipe de profissionais com dedicação exclusiva para aplicar a metodologia para os demais professores da rede. A partir do aprendizado acumulado em três anos, o município terá condições de transformar o programa em política pública”, avalia.
Investimento foca na sustentabilidade
Como um dos tripés da sustentabilidade, o meio ambiente é contemplado nas políticas adotadas pelas empresas. É o caso da pernambucana Engarrafamento Pitú, indústria de bebidas com fábrica localizada em Vitória de Santo Antão, que investiu R$ 1 milhão na modernização da estação de tratamento de efluentes e de reaproveitamento de resíduos sólidos. Além disso, a companhia conserva uma área de reflorestamento de 3 hectares em volta do parque fabril, destinada à preservação permanente da fauna e flora nativa.
“Tivemos uma melhora na qualidade do efluente tratado, o que nos permitiu o seu reuso e abastecimento no açude. Também geramos um lodo compacto e esse novo resíduo recebeu um tratamento mais nobre, pois virou coadjuvante para fabricação de telhas e tijolos”, afirmou Maria das Vitórias Cavalcanti, sócia-diretora de Exportações e Relações Institucionais da Pitú. “O reuso do efluente tratado é destinado para a área de reflorestamento da empresa. É também usado no abastecimento de seu açude sendo este tipo de reuso autorizado pelo órgão ambiental estadual (CPRH).”
A Rota do Mar também adotou o sistema de reuso de água na confecção de peças. Segundo Arnaldo Xavier, diretor presidente da empresa, o maior consumo de água se dá durante o processo de estamparia. “Consumimos 70 mil litros de água por mês. Criamos um processo com um sistema para retirar todo resíduo químico da água e conseguimos reaproveitar 80% do recurso. Ou seja, 40 mil litros voltam para o reservatório de origem para serem reutilizados”, conta.
“Constantemente fazendo esse processo, a gente reutiliza a água várias vezes, perdendo apenas 20% do líquido. Antigamente, era de 100% a perda da água”, celebra. A estamparia também é o setor que gasta mais energia. Para dar conta disso, “temos um espaço grande de placas de energia solar onde geramos energia limpa”, diz Xavier.
Já o Grupo O Boticário, desde 2012 se compromete a buscar maneiras de reduzir os impactos ambientais em suas operações. “Trabalhamos com vetores de longo prazo para mapear riscos e encontrar oportunidades na gestão de nosso ciclo de vida de produtos”, pontua Malu Nunes, gerente de Sustentabilidade do Grupo O Boticário.
“Essa preocupação começa na fase de desenvolvimento e criação de novos itens. Investimos, anualmente, 2,5% de nosso faturamento em Pesquisa e Desenvolvimento. Em 2017, 76% de todos os projetos aprovados observavam aspectos de sustentabilidade e 52% dos produtos efetivamente desenvolvidos reúnem essas características”, revela. O Grupo ainda ajuda a manter a ONG Fundação Grupo Boticário, que, através de editais de incentivos de pesquisa, resultou na descrição de 172 novas espécies, no estudo de 256 espécies ameaçadas de extinção e no apoio a 496 unidades de conservação.
Folha de Pernambuco