Em Pernambuco, diversas famílias ainda amargam a vida precária em lixões, apesar da existência de uma Lei Federal que determinava a construção de aterros sanitários em todas as cidades do país até agosto de 2014. Quase 70% dos 184 municípios pernambucanos ainda descartam os resíduos de forma inadequada, segundo levantamento feito pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE), e, na prática, os números refletem a situação difícil de que vive e trabalha em condições precárias nesses ambientes.
No município de Camaragibe, por exemplo, há entre 100 e 170 pessoas se submetendo à vida em locais insalubres para garantir o sustento da família. “Fazer o quê? É o pão da gente, o leite dos meninos. Tem que ficar aqui mesmo. É o único jeito enquanto não aparece outro trabalho. Quando aparecer um melhor, com certeza saio daqui”, comenta o catador de lixo Adriano José da Silva, 25, que trabalha no lixão desde os nove anos de idade.
No município de Vitória de Santo Antão, na Mata Sul de Pernambuco, há 50 famílias vivendo no lixão. “Se a gente tivesse [casa], meu marido só trabalhava aqui, mas a gente não tem”, conta a catadora de lixo Ediflávia Arruda de Lima.
De acordo com o catador Cícero Livramento Júnior, o trabalho é individual. “Aqui cada um trabalha por si. Ninguém manda, cada um faz sua semana. Se não trabalhou, não ganha nada”, explica. Segundo ele, o trabalho envolve a coleta de materiais como papelão, alumínio e até mesmo jeans.
O auditor do TCE-PE Pedro Teixeira explica que o levantamento é feito desde 2014 e, até o último mapeamento, feito em 2016, não foram vistos avanços. “Há 126 municípios que estão cometendo crimes ambientais todos os dias, depositando resíduos em lixões”, diz.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Vitória de Santo Antão afirmou estar buscando parcerias para mandar o lixo para aterros de cidades vizinhas. A administração municipal também informou que tenta melhorar as condições de vida das crianças que vivem com as famílias no lixão.
Já a Prefeitura de Camaragibe assegurou que busca recursos para criar uma usina para a produção de adubo e biogás onde está sendo feito o aterro sanitário. “Camaragibe precisa avançar e o que resolve é a usina com a coleta seletiva do lixo”, diz o prefeito Demóstenes Meira (PTB). A Prefeitura também afirmou que pretende melhorar as condições de trabalho e de higiene de quem trabalha no local.