Quando o Carnaval acaba, o maracatu, o cavalo-marinho e o caboclinho seguem unindo artistas em torno de movimentos que mantêm firme a cultura pernambucana.
Importante cartão-postal para o turismo do Estado, cada uma dessas manifestações poderá receber do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o título de Patrimônio da Cultura Brasileira. Um resultado positivo fará com que o Estado brasileiro passe a ser responsável pela valorização, apoio e fomento dessas expressões artísticas.
Além disso, os bens seriam inseridos no Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, segundo a diretora de Preservação Cultural da Fundarpe, Célia Campos. Ela conta que, com o registro, os bens poderão ter benefícios na área econômica (podendo surgir novos modos de apresentação), na área social (com maior reconhecimento na mídia nacional e internacional) e na área política (com os detentores mais ativos nas decisões que poderão melhorar a continuidade das atividades). Lembrando que o frevo, hoje Patrimônio Imaterial da Humanidade, percorreu o mesmo caminho.
Para os artistas, a concessão viria a coroar um momento em que os grupos vivem uma boa fase. Manoelzinho Salustiano, atual vice-presidente da Associação Estadual dos Maracatus de Baque Solto, diz que a instituição já presta 24 anos de assistência aos grupos e, ao longo desses anos, todas as atividades foram pensadas com o cuidado de preservar a cultura do baque solto, o que só aumenta a participação das comunidades. “Começamos com 10 grupos, hoje são 110, que somam um total de 14 mil integrantes. Acredito que o fato de termos nos organizado em associação começou a abrir portas”, diz o filho do Mestre Salustiano.
Mestre do Maracatu Nação Leão Coroado, que tem 150 anos de atuação, Afonso Aguiar diz que o título de patrimônio poderá reforçar sua originalidade. “Está havendo muita mudança, os grupos estão se transformando, saindo das suas origens, do contexto. Não sou contra a modernização, mas as origens devem ser mantidas e um reconhecimento do Iphan seria de grande importância para essa preservação das raízes”, destacou o mestre, que tem o Leão Coroado mais como religião do que Carnaval.
O historiador João Monteiro diz que mudanças são naturais. “A tradição em si não é estática, ela vai sofrer influências. Mas para que ela não mude a ponto de ser vulnerabilidade, o povo preciso ajudar e identificar os valores de suas raízes.”
Para uma avaliação minuciosa, a presidente nacional do Iphan, Jurema Machado, recebeu do Governo do Estado, os inventários nacionais de referência cultural para que os folguedos possam se tornar patrimônio. Ainda não existe um prazo definido para a avaliação do conteúdo dos inventários. Após o encaminhamento do material para Brasília, o Iphan decidirá as datas que os bens serão avaliados pelo Conselho Consultivo.
“Acreditamos que esses bens culturais possuem boas chances de ganhar o título, visto que o processo de inventário contou com a participação dos detentores (mestres, integrantes, comunidade e entidades representativas), das pessoas que fazem e vivem essas formas de expressão. Além disso, os técnicos da superintendência do Iphan acompanharam o processo, contribuindo para a produção de produtos qualitativos”, frisa Céli.
Jurema Machado também está otimista. “Pernambuco vive um momento de cuidado com sua cultura. Tornar-se patrimônio cultural do Brasil não se limita a ter uma festa. É preciso que essa manifestação seja acompanhada por um trabalho de documentação, ao lado dos mestres, que é o que vemos sendo feito em Pernambuco com muito critério”.