Aqueles que defendem a vaquejada veem na prática não só uma atividade esportiva e de entretenimento, mas também um patrimônio cultural e importante pilar econômico do Nordeste. De acordo com Sílvio Valença, presidente da Associação de Criadores de Quarto de Milha (ACQM-PE), cerca de 80% da atividade econômica do município de Cachoeirinha, no Agreste pernambucano, por exemplo, gira em torno das vaquejadas que ocorrem na região.
“Um levantamento que fizemos mostra que, no Nordeste, as vaquejadas geram cerca de 120 mil empregos diretos e 600 mil indiretos. Em Cachoeirinha, o comércio é basicamente de selas, arreios, artigos de ferro, tudo o que tradicionalmente se usa em vaquejadas. A proibição da atividade geraria um impacto econômico imenso em cidades como esta”, argumentou Valença.
Rebatendo as críticas feitas por defensores dos animais, Valença afirmou que atualmente o bem-estar animal é uma prioridade entre os realizadores de vaquejadas. “A evolução da vaquejada está diretamente ligada ao bem-estar dos animais. Hoje existem órgãos que chancelam esses eventos, que impõem um regulamento para que boas práticas sejam observadas. Não somos inimigos dos defensores dos animais”, cravou.
Na última terça-feira, vaqueiros e organizadores de vaquejadas realizaram protestos em todo o País contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e planejam outras mobilizações nacionais. “No dia 25 de outubro faremos um novo ato, desta vez uma grande marcha em Brasília para exigir que nossa tradição seja preservada.”
A defesa dos animais
Entre os que priorizam o bem-estar dos animais, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) foi muito bem recebida. De acordo com a veterinária Ana Paula Monteiro, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), “a realização de eventos que promovam uma cultura de maus-tratos aos animais não faz sentido no mundo civilizado”.
A pesquisadora, que também integra a Comissão de Ética no Uso de Animais da UFRPE, questiona a relevância econômica da vaquejada como prática esportiva. “Qual o interesse das pessoas que vão para esses eventos? Elas vão ver a luta entre o vaqueiro e o boi ou vão para os shows, para o encontro social? Até que ponto a questão econômica realmente gira em torno da vaquejada em si?”, questionou.
Ainda segundo Monteiro, criar regras para a realização de eventos deste tipo reduz mas não evita o sofrimento animal. “Mesmo com a proibição de esporas, com a exigência de protetores de caudas, entre outros pontos, a queda do animal vai continuar ocorrendo. O stress, também. Para que encurralar um animal e derrubá-lo violentamente? Isso é prática do mundo ‘incivilizado’”, comentou a professora.
E faz um comparativo com outra forte tradição cultural. “A sociedade usa os animais para os mais variados fins: alimentação, vestuário, entretenimento, trabalho, terapia etc. Somos nós que devemos observar o bem-estar deles. Na Espanha, a tourada é muito mais tradicional do que a vaquejada aqui, tem centenas de anos, mas já existem regiões em que ela está sendo abolida.”
Jornal do Commercio
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil