O presidente Nacional do PSB, governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, formalizaram neste sábado (05) uma coligação política e eleitoral para a disputa das eleições 2014.
Os dois partidos reafirmaram sua integridade e identidade, porém, nas circunstâncias criadas com a recente decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que negou o registro à Rede como partido, decidiram por uma filiação programática desta no PSB. O objetivo é construir em conjunto uma discussão e uma agenda programática capazes de mudar o Brasil.
“Não estamos nos fundindo ao PSB, mas recebendo desse partido histórico e com quem temos vários pontos de conjunção a chancela política que a Justiça Eleitoral nos negou”, esclareceu Marina Silva. “É uma aliança programática, um encontro de sonhos e de propostas: estamos unindo forças para combater e superar o atraso da política brasileira”.
Eduardo Campos reforçou: “Estamos juntos pelo Brasil que queremos, para encurtar a distância entre o Brasil oficial e o Brasil real”, declarou. “É certo que aprenderemos muito com Marina e a Rede, que deram uma aula de cidadania e de democracia com esse ato – que não por coincidência acontece hoje, dia em que a Constituição Federal está completando 25 anos”.
O ato de filiação de Marina Silva no PSB lotou o Salão Azul do tradicional Hotel Nacional, em Brasília, e contou com a presença de várias lideranças de ambas as siglas, que vieram à capital federal especialmente para o evento. Além da ex-Senadora, também se filiaram ao PSB os Deputados Federais Alfredo Sirkis (RJ) e Walter Feldman (SP) e o ativista Pedro Ivo de Souza Batista (DF).
Do PSB, participaram o vice-Presidente, Roberto Amaral, o primeiro Secretário Nacional e presidente da Fundação João Mangabeira, Carlos Siqueira, os líderes do partido no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), e na Câmara dos Deputados, Beto Albuquerque (RS), os presidentes dos diretórios estaduais em São Paulo, Márcio França, e no Rio de Janeiro, Romário, a Deputada Federal Luiza Erundina (SP) e o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (SP).
Da Rede, estiveram presentes ao ato de filiação, além de Sirkis, Feldman e Batista, também Cássio Martinho, um dos articuladores do partido, Bazileu Margarido, um dos principais auxiliares de Marina, Pedro Ivo Batista, seu braço-direito, e Ricardo Young. Os Deputados Federais José Reguffe (PDT-DF) e Miro Teixeira (PROS-RJ) também acompanharam a equipe.
Marina Silva
Eduardo Campos e Marina Silva chegaram juntos ao salão do evento e foram ovacionados pelos presentes, que já integraram os gritos de guerra das duas legendas: “De Norte a Sul e no país inteiro, viva o Partido Socialista Brasileiro e a Reede, Reede!”. Após o Hino Nacional, cantado com emoção pelo auditório e toda a mesa das lideranças e tendo como pano de fundo uma imensa bandeira do Brasil, Carlos Siqueira deu as boas vindas a Marina no PSB e a apresentou como “uma grande líder combativa e figura extraordinária da vida política brasileira”.
Ela iniciou seu discurso, bastante enfático e emocionado, registrando que Eduardo Campos está nesse momento com uma responsabilidade histórica diante de todos. E revelou que, durante as discussões que atravessaram a madrugada após a Rede ter seu registro negado pelo TSE, ao invés de pensar num plano B, como pressionavam a mídia e seus assessores, começou a considerar um plano C. Algo que não incluísse fazer alianças estritamente pragmáticas com outro partido, como fez em 2010 para concorrer à Presidência da República pelo Partido Verde (PV) e ”infelizmente, o pragmatismo venceu a esperança”, e, ao mesmo tempo, que não a restringisse a ficar sem partido, apenas participando das eleições pela internet.
“Eu não podia me filiar a um partido apenas para viabilizar minha candidatura, nem tampouco me resignar e virar a Madre Teresa da internet, que todo mundo ia curtir, ia cutucar, mas não faria a diferença”, ponderou. “Isso era o previsível, o confortável, o mais do mesmo. Decidi pelo inesperado e o meu plano C foi C de Campos, quando lembrei do poeta Thiago de Mello nos ensinando que, quando não é possível um novo caminho, há que se aprender uma nova forma de caminhar”.
Segundo Marina, a decisão foi tomada porque o PSB é um partido histórico e com bandeiras históricas, que tem muitos pontos em comum com a Rede e porque foi o partido que esteve a seu lado na primeira hora quando do início da coleta de assinaturas para sua criação, ainda em maio. “Seu presidente, Eduardo Campos, chegou a nos enviar uma carta assinada por ele reconhecendo a Rede – quem sabe já antevendo esse momento que hoje vivemos”, apontou ela. “Mas decidimos pela aliança com o PSB também porque Eduardo Campos está trabalhando a duras penas para não ter sua candidatura cassada – não como a minha, em pleno vôo e por quem fomos buscar Justiça – mas de outras formas estão buscando miná-la também”.
Marina Silva disse que estava muito feliz e muito grata pelo que o PSB está proporcionando à Rede com essa aliança, reconhecendo um partido que já existe de fato, em conteúdo, militância em todos os estados do país e no coração da população. “Somos o primeiro partido clandestino criado em plena democracia. Quero agradecer aos companheiros do PSB a chancela política e eleitoral que o TSE negou”, ressaltou. “O PSB já tem um candidato que está posto, o governador Eduardo Campos, e queremos adensá-lo democraticamente apresentando a ele o nosso conteúdo programático, que igualmente luta por um Brasil melhor e uma nova política em nosso país”.
A ex-senadora encerrou seu discurso com uma poesia em que dizia “darei o melhor de mim onde precisar o mundo”. “E o melhor de mim eu estou depositando aqui hoje, nesse projeto conjunto pelo Brasil que queremos”, assegurou.
Eduardo Campos
O presidente Nacional do PSB admitiu que era um momento de muita emoção também para ele, que nasceu numa família de perseguidos políticos, militou durante anos, concorreu, se elegeu e teve a experiência de administrar. “Mesmo com toda essa bagagem, de ontem (sexta-feira) para hoje tive uma das minhas maiores lições de vida, que me chegou em conversas muito profundas e ao mesmo tempo muito tranquilas com Marina”, revelou. “Falamos sobre o povo, a vida das pessoas, a esperança, a leveza que falta na vida do país, os nossos sonhos e a nossa inquietação com tudo isso que virou a política brasileira, a distância do Brasil real para esse oficial que vemos aí”.
Segundo Eduardo Campos, o Brasil espera muito mais dos políticos do que somente as campanhas e as eleições e o ato de filiação de Marina ao PSB e a aliança com a Rede ficará para a história como um ato que reformou a política brasileira. “Esse ato irá aproximar muita gente pelo país todo, gente que já lutou contra a ditadura, pelas eleições diretas para Presidente, para tirar um Presidente, que foi às ruas agora em busca de direitos básicos de cidadania”, destacou. “Essa união acende de novo a esperança e o brilho em nossos olhos pela vida pública limpa e decente”.
O líder socialista destacou ainda que o que une PSB e Rede neste momento é a história. “Todos que estão aqui nos acompanhando já dedicaram parte de suas vidas à construção de um país melhor e quem entende o que aconteceu nas ruas em junho não terá nenhuma dificuldade para entender o que está acontecendo aqui hoje”, assegurou. “Nós estamos quebrando uma falsa polarização na vida política brasileira, estamos inserindo o povo no debate eleitoral, para que não vire um debate oco, como foi em 2010”.
Campos afirmou que o PSB deve aprender muito com Marina e a Rede e que ambas as siglas estarão juntas em todo o país nesse aprendizado, garantindo uma política com diálogo e em que todos que queiram possam participar. “Nós reconhecemos a Rede como algo necessário para mudar a vida política do país, e não é de hoje. É com orgulho que fui um dos primeiros a apoiar a criação desse novo partido, inclusive para garantir esse direito em ação no Supremo Tribunal Federal (STF)”, lembrou. “Aqueles que achavam que iriam matar a Rede no julgamento do TSE, agora estão vendo ela se agigantar nessa união com o PSB”.
O socialista também garantiu a Marina Silva que é com o maior respeito histórico que o PSB recebe a Rede “em nossa morada de 60 anos”. “Sabemos das nossas diferenças, mas focamos agora no que nos une – o campo das ideias, do debate, do diálogo. As ideias de Marina foram mais fortes do que sua candidatura – isso é política. Reduzí-la a tempo de TV, palanques, exigência de assinaturas, é retirar o povo do debate. A população vai participar das eleições de 2014, que coisa boa!”, comemorou.
Segundo ele, ninguém tem dúvida de que a união com a Rede aumenta as chances do PSB na disputa pelo Palácio do Planalto em 2014. “É claro que isso acelera o debate eleitoral, mas não vamos atropelar o debate do conteúdo que nós vamos apresentar em 2014. Vamos primeiro cuidar do conteúdo que nos une e depois da chapa que vai representar esse conteúdo”, adiantou, repetindo a decisão do partido de só discutir as eleições de 2014 em 2014.
Fechando o ato de filiação, Eduardo Campos apontou: “Esse é um ato de coragem de Marina, que dá aula a muitos doutores e analistas que fizeram milhares de projeções sobre seu futuro caso não conseguisse o registro de partido no TSE. Eles devem estar agora refazendo seus cálculos, porque esqueceram da lição do poeta que Marina lembrou – como não havia caminho, nós voamos!”.