Diversos fatores se somam para tornar nosso litoral propício aos ataques
A pergunta acima é repetida diversas vezes ao dia por milhares de pessoas na Região Metropolitana do Recife. Esse enigma toma conta do imaginário pernambucano desde a década de 90, quando os ataques começaram a ficar frequentes. Muitos culpam as obras no Porto de Suape, porque acreditam que os navios atraem os tubarões. Sendo assim, por que o fenômeno não ocorre nos estados vizinhos? Por que Alagoas nunca registrou um incidente, apesar de Maceió também ter um porto urbano? E o que dizer da Paraíba, que em 82 anos só tem registro de um único ataque, apesar de o Porto de Cabedelo, a 18 km de João Pessoa, estar bem mais perto daquela capital que Suape em relação ao Recife, separados por 40 km?
Para responder a estas e outras perguntas, a Folha de Pernambuco ouviu especialistas, de diversas áreas, analisou estudos científicos de pesquisadores nacionais e internacionais, investigou as alterações promovidas em Suape e as características da costa pernambucana. Tudo isso para entender os motivos que fizeram se acentuar, ou tornar mais conhecidos, a partir de 1992, os ataques nas praias do Grande Recife, com destaque para Boa Viagem e Piedade.
De lá para cá foram 59 ocorrências registradas, sendo 31 a surfistas e 28 a banhistas. Dos surfistas, quatro morreram. Entre os banhistas, 20 faleceram, incluindo a paulista Bruna Gobbi, a primeira mulher a constar no sinistro ranking dos mortos por tubarão em Pernambuco. E diante destes dados, novas perguntas surgem: por que os surfistas lideram o ranking? Porque a maioria de mortos foram banhistas? E por que só duas mulheres estão entre as vítimas?
Um dos maiores estudiosos do assunto no Brasil, o professor Fábio Hazin, do Departamento de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), resume: “A principal causa dos ataques é a proximidade”. Diante da afirmação, nova dúvida: estamos indo ao encontro dos tubarões ou eles vindo a nós?
Quem vive do mar e no mar, como o presidente da Colônia de Pescadores Z1, Augusto de Lima, que pesca há 55 anos, entende que tubarões não são novidades por aqui. Ele acha que a poluição está estimulando os ataques. Já o engenheiro de Pesca Assis Lins de Lacerda Filho apimenta ainda mais a polêmica declarando que os ataques ocorrem em todas as costas, a diferença é que em Pernambuco passaram a ser monitorados. “Aqui registramos tudo, diferentemente de outros locais”.
Cada depoimento acima tem seu fundo de verdade. Mas é importante compreender que Pernambuco detém vários fatores geográficos, ambientais e antrópicos que se unem formando um cenário exclusivo, capaz de atrair para a parte mais populosa da costa pernambucana esses animais.