Além do tamanho, preço dos ovos também deve diminuir para não impactar no bolso do consumidor
O consumidor mais atento vai perceber que barras, caixas e, até, ovos de chocolate estarão menores este ano. Para se adequar aos novos hábitos de consumo dos brasileiros, que andam com menos disposição para gastar, as indústrias reorganizaram seus portfólios para não perder a clientela no período de Páscoa. Mondelez, Nestlé e Cia do Cacau estão entre as marcas que tentam fisgar o consumidor mesmo em ano de recessão econômica. Mas não é só o peso que estará pequeno, as empresas garantem que os preços vão acompanhar a conjuntura, de modo que o cliente não sinta tanto impacto no bolso.
O diretor industrial da Cia do Cacau, Marcelo Souza, revelou que essa estratégia está fazendo a marca despontar frente às grandes empresas. “Embora no ano passado o setor tenha sentido dificuldade, passamos ilesos ao cenário de retração”, comentou, destacando o crescimento de 12% em 2015. Para manter o resultado do ano passado, já que em 2016 a situação permanece crítica, Souza irá apostar em produtos com pesos menores, como o caso do Cacau Top Premium, de 150 gramas (g), que será vendido por R$ 7. “Podemos dizer, sim, que se trata de uma adequação (na produção) em virtude da crise econômica”, frisou. A marca vai oferecer também itens com maior valor agregado e com preço menos salgado. O Cia do Cacau Gold, com 190g de chocolate ao leite, por exemplo, vai custar R$ 13.
Com a Mondelez não foi diferente. A marca, que possui uma unidade fabril em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, informou que seu objetivo é garantir que os consumidores comprem com baixo desembolso. O Amandita Due, por exemplo, encolheu de 290g para 231g, saindo dos R$ 40 em 2015 para R$ 23,90 este ano, o Bis Xtra diminuiu de 595g para 300g, com economia de R$ 5,09 de um ano para o outro, e o Bis ao Leite reduziu 212 gramas e saiu dos anteriores R$ 56,99 para R$ 39,90 atuais.
A Nestlé também sinalizou realinhamento dos itens que compõem suas ofertas, concentrando as opções nos ovos preferidos do consumidor. Com ovos de 90g, a marca oferecerá Coelho Alpino, Alpino e Galak. Este último podendo chegar até 700g. “Fizemos uma grande engenharia para manter os preços em linha com a inflação e garantir um repasse bastante inferior à elevação do custo das principais matérias-primas”, informou a Nestlé. A diferença de preço, no entanto, não foi divulgada pela empresa.
Apesar de o Carnaval ter acabado há menos de uma semana, o que as empresas comentam já acontecem nas principais redes atacadistas do Recife. A reportagem da Folha de Pernambuco visitou quatro supermercados e, em todos, foi possível identificar barras e caixas de chocolates em tamanhos menores. Todos sinalizavam na embalagem o percentual de redução, conforme determina o Inmetro. No entanto, vale ressaltar a diferença de preços dos mesmos produtos de um local para o outro. Na comparação, uma caixa de bombons sortidos Garoto chegou a custar R$ 1 a mais de uma loja para outra. O Nestlé Especialidades, por exemplo, pulou de R$ 8,99 para R$ 10,29.
CDC: embalagem deve informar a redução
Se, durante as compras para Páscoa, o cliente se sentir lesado com relação à redução do peso, especialistas recomendam procurar órgãos de defesa do consumidor. Professor da Unifavip de Caruaru, Alan Ventura destaca que “o Código de Defesa do Consumidor (CDC) estabelece que o fornecedor informe claramente na embalagem se houve redução de gramas, mas nada impede que ele aplique o mesmo valor”. Apesar de o consumidor sair perdendo, de acordo com Ventura, o preço final depende do mercado e da empresa. “O cliente é quem vai decidir se o que está pagando é condizente com o que está levando”.
Já a coordenadora executiva da Associação de Defesa da Cidadania e do Consumidor (Adeccon), Rosana Grinberg, destacou que “mesmo se a empresa optar por não reduzir o preço, tem que avisar ao cliente. Inclusive, o consumidor pode comunicar ao órgão de defesa do consumidor que se sentiu lesado e pleitear os direitos via Justiça. Isso se configura como crime contra o consumidor e contra economia popular”.
Professor de Direito da Faculdade dos Guararapes e delegado do consumidor, Roberto Wanderley acrescentou que “composição e peso têm que corresponder ao produto. Do contrário, se configura como crime, com pena de um a cinco anos”. Os consumidores penalizados podem recorrer ao Procon e ao Ipem, para solicitar fiscalização no local.
Folha de Pernambuco