Além dos 141 casos espalhados por 42 municípios pernambucanos, há relatos de recém-nascidos com essa anomalia na Paraíba, no Rio Grande do Norte, em Sergipe e no Piauí.
Único Estado com dados organizados sobre a microcefalia e pioneiro na elaboração de um protocolo em parceria com o Ministério da Saúde para investigar o aumento inusitado no número de casos dessa anomalia congênita, Pernambuco sensibilizou especialistas de outros Estados a ficarem atentos a uma mudança de padrão na ocorrência da microcefalia, condição em que o tamanho da cabeça é menor do que o normal para a idade. Além dos 141 casos espalhados por 42 municípios pernambucanos, há relatos de recém-nascidos com essa anomalia na Paraíba, no Rio Grande do Norte, em Sergipe e no Piauí. No dia 24 de outubro, em matéria publicada no JC, especialistas pernambucanos já haviam alertado sobre a necessidade de se fazer uma busca ativa para analisar se o aumento do número de bebês com essa condição estaria ocorrendo em outras partes do Brasil.
No Rio Grande do Norte, informações fornecidas pela Secretaria de Saúde para o Instituto de Medicina Tropical revelam que já foram observados 22 casos naquele Estado – a maioria a partir do mês de agosto, seguindo a mesma tendência constatada em Pernambuco. O indicador é 11 vezes maior que o registrado em 2012. Os nascimentos aconteceram em Natal, Mossoró, Macaíba e Currais Novos. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte está organizando uma rede de referência para assistência a esses bebês. “Eles necessitam de uma atenção especializada. São pouquíssimos os profissionais com treinamento no momento para cuidar dessas crianças”, afirmou o professor do Instituto de Medicina Tropical do Rio Grande do Norte, Kleber Luz.
Em Pernambuco, uma rede de reabilitação para os recém-nascidos com microcefalia também começa a ser formatada. A Secretaria Estadual de Saúde sinalizou que já entrou em contato com a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). A neuropediatra Vanessa Van Der Linden Mota, gerente médica da instituição, tem acompanhado, desde agosto, a mudança no padrão de ocorrência na microcefalia no Estado. Também médica do Hospital Barão de Lucena (HBL), ela diz que passaram por ela, até a última semana, 11 bebês com a anomalia no hospital.
“São crianças que precisam de uma estimulação precoce antes de apresentarem qualquer alteração, pois têm risco de ter problemas neurológicos ao longo do desenvolvimento. Por isso, já encaminhamos algumas para a AACD”, informa Vanessa, que chama atenção para um detalhe importante: “A maioria dos exames realizados até agora nos bebês e nas mães foi negativo para citomegalovírus e toxoplasmose”, acrescenta a neuropediatra, referindo-se a infecções congênitas que geralmente estão relacionadas à microcefalia.
Ontem o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, disse estar acompanhando de perto o aumento da incidência da anomalia. “É um assunto que precisa ser bem investigado para evitar casos futuros. A partir da identificação do que causou, será preciso tomar medidas preventivas. Infelizmente estão aparecendo casos em outros Estados e, por isso, é importante a integração entre todos”, ressalta Paulo Câmara.