Diretas Já pegavam fogo no Brasil, há 30 anos

Comício da Praça da Sé marcou início de atos com multidões

A chuva caiu durante boa parte do tempo; os caixas-desom não davam conta de levar os discursos para quem estava mais longe; a abertura política avançava, mas a ditadura, 20 anos depois, ainda não acabara. Mas a multidão não se dispersou em momento nenhum, durante as quatro horas de discursos proferidos naquele 25 de janeiro de 1984, na Praça da Sé, em São Paulo. Espalhados por ruas, cercas, escadarias e postes de luz, centenas de milhares de brasileiros mandavam um recado à classe política: era chegada a hora de encerrar por definitivo o regime de exceção e entregar de volta ao povo o direito de escolher o seu presidente. 

O recado demoraria ainda mais de cinco anos para ser atendido, uma vez que, em abril, a chamada Emenda Dante de Oliveira seria derrotada, adiando o sonho das Diretas Já por mais cinco anos. Se o voto para presidente não foi atendido, o movimento das Diretas Já serviu para enterrar o que restava do regime de repressão sob a pá-de-cal da livre manifestação e conceder um arremedo de união a um país dividido por décadas. 

Uma pesquisa Ibope, na época, indicava que 84% da população nacional queria o voto direto. A voz da redemocratização era quase uníssona, como destacava o então governador de São Paulo, Franco Montoro (PMDB), principal organizador do evento, em discurso naquele dia. “Perguntam se aqui (no comício) há 300 ou 400 mil pessoas. Mas a resposta é outra: aqui na praça estão presentes as esperanças de 130 milhões de brasileiros”, afirmou, sob aplausos.

Mesmo considerando os exageros e aceitando o cálculo feito pela Polícia Federal, subordinada ao Governo Militar, que contabilizou 130 mil manifestantes, o comício da Praça da Sé marcou o início das manifestações de massa em prol das Diretas Já. O ponto mais alto da campanha viria em 16 de abril, no Vale do Anhangabaú, onde foram reunidas 1,5 milhão de pessoas. Antes disso, o movimento atraía públicos relativamente pequenos. 

O primeiro comício pró Diretas registrado ocorreu em Pernambuco, organizado espontaneamente em Abreu e Lima por quatro vereadores da cidade, em 31 de março de 1983, como resposta à festa de comemoração dos 19 anos do Golpe Militar. A ousadia foi acompanhada por pouco mais de 100 pessoas, mas a ideia foi sendo espalhada e repetida País afora, com incrementos progressivos no comparecimento, até que, exatos 30 anos atrás, veio o primeiro evento de massa. 

Ali discursaram lideranças simbólicas da oposição e que, após a redemocratização, teriam papéis de protagonistas nos rumos do País. Entre elas, o então presidente nacional do PMDB, Ulysses Guimarães, que ganharia a alcunha de “Senhor Diretas” e seria o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, que aprovou a Constituição de 1988. Também, o então senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB) e o ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ambos viriam a ocupar o Palácio do Planalto.

Folha de Pernambuco

One Reply to “Diretas Já pegavam fogo no Brasil, há 30 anos”

  1. Pra quem não sabia o LULA era o dedo duro entregava todo mundo aos militares!leia o livro do TUMA Jr. Assassinato de Reputações!tá tudo lá.

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