Hecatombe da Vitória

A Hecatombe é um conflito político acontecido em 27 de junho de 1880, véspera da eleição municipal dentro e nas cercanias da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, servindo nessa época de matriz provisória, visto que a matriz atual estava em construção, e as mesas regedoras eram realizadas nas igrejas matrizes.

No segundo Império, dois partidos se alternavam, no poder: O Partido Liberal e o Partido Conservador. Em Pernambuco os liberais eram divididos em duas facções: “liberais leões” e os “liberais democratas”. Na cidade da Vitória as duas fileiras tinha ferrenhos adeptos, sendo que os democratas eram a maioria. Ambos os grupos contavam com membros da oligarquia canavieira vitoriense. Entre os “liberais-democratas” destacavam o Dr. Ambrósio Machado e o Barão da Escada. Do lado dos “liberais-leóes” sobressaiam-se o tenente Cristóvão Álvares dos Prazeres e José Francisco Pedroso de Carvalho. Dentro desse tenso clima aproximava-se a eleição de Junho, a eleição mais importante, pois dela dependia a liderança política de nosso município.

Os “democratas-leões” marcaram uma grande concentração na Praça da Matriz, de onde se deslocaram até o Pátio dos Currais, no bairro do Livramento. Temendo a ação dos manifestantes e impedindo que eles tivessem acesso à Igreja do Rosário, onde ocorreriam no dia seguinte às eleições, o Dr. Nicolau Rodrigues, Juiz de Direito, arquitetou um plano de defesa do templo. No dia 26, dispôs os homens sobre seu comando em pontos estratégicos: nas esquinas, no pátio da frente e na calçada. Montou barricadas e dispôs atiradores nas varandas frontais e laterais da Igreja.
No dia 27 de junho, o Dr. Ambrósio Machado, seguido dos seus partidários e dos seus eleitores, deixou o Engenho Arandú de Baixo, a caminho da Vitória. No caminho, em Ladeira de Pedras, incorporou-se ao grupo, o Major Lins, líder do Partido Conservador. Portavam flores verdes e amarelas e dois pavilhões imperiais, ao som de cornetas. Às 16 horas ingressaram no Pátio da Matriz, nele entrando pelo Beco do Rosário. O Dr. Nicolau e o delegado estavam em pé em frente a porta principal do Templo, apoiados pela sua tropa. O Dr. Ambrósio apeou-se do cavalo e repreendeu o delegado pelo seu procedimento parcial e ilegal. Enquanto Dr. Ambrósio dirigia suas reclamações ao delegado, o Senhor Belmino da Silveira, o Barão da Escada, montado em seu cavalo censurava o comportamento do Juiz Dr. Nicolau. Dois tiros ecoaram no espaço, atingindo o Barão, que caiu desfalecido. O Dr. Ambrósio foi atingido por dois tiros e uma punhalada nas costas, sendo retirado do local, nos braços de companheiros. A multidão se rebelou e tentou invadir a Igreja, mas foram recebidos por fortes rajadas de tiros deflagradas das varandas.

As imagens sacras atingidas pela mortandade estão em exposição permanente, no museu do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória.