Em busca do “tempo” perdido

Amplas frentes de partidos sempre foram uma prioridade para o ex-governador Eduardo Campos. Nas últimas duas eleições, do prefeito Geraldo Julio (PSB) e do governador Paulo Câmara (PSB), a Frente Popular bateu recordes de número de partidos aliados. Mas, a menos de um ano para o pleito de 2018, Paulo Câmara pode ir às urnas sem os três maiores tempos do guia.

O PMDB, que tem maior espaço de televisão, é uma incerteza, visto que a legenda pode cair nas mãos do senador Fernando Bezerra Coelho (PMDB), que se declarou candidato na semana passada. O PT e o PSDB, segundo e terceiro maiores tempos, estão na oposição. Partidos da base como Rede, PR e PSC também ameaçam deixar a Frente. E, pela primeira vez, a oposição tem a oportunidade de ter uma correlação de forças, diante do tempo de propaganda mais consistente.

O espaço de televisão e rádio é calculado de acordo com a representação dos partidos na Câmara de Deputados. Quem tem mais parlamentares, recebe uma fatia maior da propaganda.

Depois da Reforma Eleitoral de 2015, consagrada na Lei 13.165/2015, a divisão estabeleceu que 90% de todo o tempo é distribuído proporcionalmente ao número de representantes que cada partido tem na Câmara. Os 10% restantes são partilhados igualitariamente. Embora o tempo referente a 2016 não esteja fechado, já que falta o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicar resoluções com a definição do calendário das eleições, é possível identificar quem deverá ter maior tempo por causa do número de parlamentares (ver arte).

Assim, as coligações influenciam, diretamente, no tempo de cada partido. Atento a isso e com a possibilidade de perder o PMDB, Paulo Câmara aceitou ampliar o espaço do PP (quarto maior tempo) e do PDT no primeiro escalão do Executivo. O primeiro ganhou a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, a Diretoria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Suape. Negocia ainda a Executiva de Recursos Hídricos e a Administração de Fernando de Noronha. Já PDT passou a comandar a Secretaria de Agricultura.

Outra estratégia do PSB é tentar atrair o PT, na oposição desde 2012, para a Frente Popular. Tanto no plano nacional como no local os dois partidos têm dialogado sobre possíveis costuras. Embora a vereadora Marília Arraes (PT) venha externando desejo de concorrer ao Governo, alas petistas defendem a aliança com o palanque de Paulo e colocam resistências ao nome da ex-socialista. Nos bastidores, há a leitura de que esticar a corda com a candidatura de Marília daria maior poder de barganha ao PT. Questionado sobre uma possível composição com os socialistas, o senador Humberto Costa (PT) disse que só o tempo irá dizer.

A decisão, segundo ele, será tomada em março do próximo ano. Embora tenha se coligado com o PTB nas duas últimas eleições, Humberto descartou um aliança com o senador Armando Monteiro. “Ele, agora, com esse conjunto da oposição com Fernando Bezerra Coelho, com o PSDB, PPS e DEM, não há a menor possibilidade”, afirmou para acrescentar que, se a eleição fosse hoje, o PT teria candidato. No bloco da oposição, além de Bezerra Coelho, podem se lançar na disputa o senador Armando Monteiro, o ministro de Educação Mendonça Filho (DEM) e o deputado federal Bruno Araújo (PSDB).

Eles já se reuniram para traçar estratégias contra o projeto de reeleição do governador Paulo Câmara. Há quem defenda multiplas candidaturas até pela dificuldade em achar um consenso entre as postulações. No entanto, outros integrantes da oposição acreditam que o candidato será Bezerra Coelho, com apoio, inclusive, do PTB.

Presidente estadual do PMDB, o vice-governador Raul Henry afirmou que a Frente Popular não cogita a hipótese de o partido não marchar com Paulo. Apesar de acreditar em um tempo amplo de guia, ele disse que mais importante que o tempo de televisão é a mensagem a ser passada ao eleitorado. “E o candidato também é o que importa, que é uma pessoa qualificada, tem o espírito público”, acrescentou o peemedebista.

A queda de braço entre Bezerra Coelho e o grupo ligado ao deputado federal Jarbas Vasconcelos pelo controle estadual do partido está judicializada. No entanto, na prática, representa um risco real ao tempo do guia do governador. Em 2014, a Frente Popular teve 21 partidos, o que assegurou ao socialista 10 minutos e 26 segundos de propaganda na televisão e no rádio. O tempo foi pouco mais que o dobro do seu então adversário, o senador Armando Monteiro (PTB), que teve 4 minutos e 57 segundos.

Na época, ele fez uma chapa com o PT, PSC, PDT, PRB e PTdoB. Para Danilo Cabral (PSB), há dois fatores a se considerar. O âmbito nacional, que pode trazer desdobramentos ao local. “E do ponto de vista local, o arco de alianças que dá sustentação à base, se replicado nestas eleições, garante um tempo de televisão razoável”, disse.

Segundo o cientista político Antônio Lucena, o cenário para eleição a governador deverá ser marcado pela fragmentação política. Isso porque Paulo Câmara não tem o mesmo sucesso de articulação que o ex-governador Eduardo Campos. “A grande coalização de 2014 foi feita por Eduardo e com o trágico acidente houve um vácuo de articulação. As novas lideranças do PSB não conseguiram seguir o mesmo que fazia Eduardo, de segurar grandes frentes”, destacou Lucena.

 

Folha de Pernambuco

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