João Cleofas: uma relembrança

Por Joaquim Lira*

Nascido no engenho Pirapama, Vitória de Santo Antão, no dia 10 de setembro de 1899, João Cleofas de Oliveira foi um político de trajetória longa, tendo iniciado sua vida pública aos 23 anos de idade, como prefeito de sua terra natal, no período compreendido entre maio de 1921 a setembro de 1922. Formado engenheiro pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1920.

Deputado estadual, federal, senador, ministro da Agricultura no governo do presidente Getúlio Vargas, sempre se pautou por uma postura determinada nas demandas de interesse de Pernambuco. Suas ações justificam essa condição, como ficaram marcadas em meio século de profícua atividade política.

Revelou-se na época de prefeito de Vitória de Santo Antão, um gestor nato. A cidade foi a terceira no Estado na instalação da iluminação pública a contar com esse benefício. Dezenas de outros serviços foram implantados como água, telefone e escola agrícola, bem como a construção   de canal aberto, de saneamento e drenagem na Avenida Mariana Amália, posteriormente coberto, com prolongamento até o Rio Tapacurá.

Seu maior reconhecimento ao município foi a construção, com recursos próprios, do Hospital João Murilo, obra que durou oito anos. Inaugurada em 10 de janeiro de 1969, como homenagem à memória de seu filho, morto em acidente aéreo, no Rio de Janeiro, em 25 de fevereiro de 1960. Seu nome é homenageado em rua principal da cidade, além de   escola de referência.

Entre os anos de 1926 a 1928, como deputado estadual na Assembleia Legislativa do Estado, elaborou projeto de regulamentação da profissão de engenheiro em Pernambuco, iniciativa essa que representou a primeira lei regulamentando a profissão em todo o país. Nomeado em janeiro de 1931, secretário de Agricultura, Indústria, Comércio Viação de Obras Públicas, construiu o tronco rodoviário ligando Recife ao interior do Estado. Criou a Comissão de Melhoramentos Municipais responsável pelos serviços de perfuração de poços e açudes.

Deputado federal em 1934, após o Estado Novo, foi eleito para o segundo mandato na Câmara Federal, em 1945. Reeleito em 1950 para o terceiro mandato. Em 31 de janeiro foi nomeado para o cargo de ministro da Agricultura, permanecendo na pasta até junho de 1954. No comando dessa importante área, teve uma atuação impar, notadamente ao incentivo da lavoura de subsistência por pequenos e médios produtores rurais.

Cleofas definiu sua passagem no Ministério da Agricultura como “o encontro do homem com sua vocação. Nele, o próprio o ministro se julga “um lavrador por temperamento e por hereditariedade e até também por profissão”. Sua atuação foi elogiada por muitos políticos no Brasil. Em decorrência, é possível que Cleofas tenha sido o único dos civis a permanecer à frente de sua pasta quando o presidente Getúlio Vargas promoveu ampla reforma no seu Ministério, em 1952. Muitos políticos de outros estados trabalharam pela sua permanência à frente desse importante órgão. Ele foi o pioneiro da irrigação nas terras áridas de Petrolina.  Através de financiamento do Governo Federal conseguiu financiamento aos agricultores para movimentar as chamadas  rodas d´águas do Rio São Francisco.

Em 1958, é eleito mais uma vez para o quarto mandato na Câmara Federal. Em 1965, é reconduzido ao quinto mandato federal, pela UDN. Em 1966, é eleito senador da República.  Ocupou a presidência do Senado em 1970. Na disputa à reeleição não consegue vencer, sendo derrotado pelo candidato Marcos Freire.

Na passagem dos trinta anos de seu falecimento, dia 17 de setembro,  no Rio de Janeiro, em decorrência de uma infecção pulmonar, nada mais procedente do que trazer a  lume a figura desse homem público, definido pelo jornalista João Álvares, seu contemporâneo, conterrâneo e amigo, em entrevista ao jornalista Carlos Sinésio, na Série Perfil Parlamentar, século XX, editado pela Assembleia  Legislativa do Estado, em 2001,  como “a maior expressão política de Vitória de Santo Antão de todos os tempos. Um homem que fez uma escola de qualidade, de dignidade, de trabalho. Por isso, ele merece a admiração de todos os pernambucanos que tiveram a oportunidade de conhecê-lo.”

*Joaquim Lira, advogado, empresário e deputado estadual

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *