Pesquisa da CNT mostra que pavimentação no Brasil tem 40 anos de atraso

 

Quem nunca reclamou de asfalto que parece se esfarelar na chuva? Ou de solavancos do veículo ao passar sobre remendos malfeitos? Na quinta-feira (24), a Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou um estudo inédito em que buscou responder por que os pa­­vimentos das rodovias do Brasil não duram. A conclusão foi que se usa metodologias atrasadas em até 40 anos em relação às de paí­­ses como Estados Unidos, Japão e Portugal. Ficou evidente ainda que faltam manutenção e fiscaliza­­ção das obras, algumas com deficiências técnicas que acabam custando até 24% do valor total dos projetos.

Portugal, por exemplo, é do tama­­nho de Pernambuco e considera três zonas para calcular o impacto das variações climáticas sobre técnicas e materiais usados. Aqui, a falta dessa diferenciação é um item de precisão a menos nos projetos. A ausência de cuidado é outro fator. Muitas rodovias já passaram de seu tempo de vida útil e, mesmo assim, só recebem reparos pontuais. Quase 30% não têm contrato de manutenção. Um caso prático é o do tre­­cho da BR-101 que corta o Grande Recife. Ele costuma passar por operações tapa-buraco cujos efeitos se perdem a cada inverno. Só a par­­­tir de setembro é que começará a ser recuperado em definitivo, pela primeira vez desde 1975.

Ainda conforme o estudo, 99% das estradas pavimentadas no Brasil têm asfalto em vez de concreto na composição. O primei­­ro tem vida útil estimada entre oito e 12 anos, e o segundo, entre 25 e 30 anos. Significa que usar asfalto é que tem sido o problema para tanta buraqueira? “Não. O pavimento de concreto é uma solução quando você tem condições de tráfego pesa­­­do. Para uma rodovia de tráfego lento, é jogar dinheiro fora”, explica o professor da UFPE Maurício Pi­­­na. “Mas há o excesso de peso. Já vimos caminhão com 21 toneladas num eixo, quando poderia ter dez. Não tem pavimento que aguente.”

Presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Civis no Estado (Abenc-PE), Stenio Cuentro afirma que há casos em que a espessu­­ra do pavimento é pequena e confirma que, em ou­­­tras partes do mundo, há materiais mais resisten­­­tes em uso. “Nossa tecnologia ficou como que 30 anos para trás, só que, nesse tempo, os caminhões come­­çaram a sair de fábrica aguentan­­­do mais peso. O peso é a primeira grande causa da destruição do pavimento”, avalia. A Polícia Rodoviá­­­ria Federal diz que, em Pernambuco, há cinco balanças em operação e que, nos primeiros sete meses de 2017, o total de autuações por exces­­­so de peso subiu de 356 para 509 em relação ao mesmo período de 2016, com o flagrante de 3,2 mil to­­neladas a mais em veículos de carga.

O estudo analisou condi­­­ções das estradas nos últimos 13 anos. Para o presidente da CNT, Clésio Andra­­­de, é preciso inves­­­tir mais. “Precisa­­­mos de uma políti­­­ca de transpor­­­te multimodal e in­­­tegrada, com ga­­­­rantia de investimentos consis­­­tentes, a longo prazo, para superar o atraso em infraestrutura”, afirma.

da Folha de Pernambuco 

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