Brega é reconhecido como expressão cultural pernambucana

“O brega ainda sofre preconceitos, atualmente muito menos do que antes. Mas, no fundo, todo mundo ama a música brega.” A declaração é de Kelvis Duran, o “príncipe do brega”, cuja voz tornou-se famosa em músicas como PerdidosEstando com ela e pensando em ti e Contigo na cabeça.

O cantor tem motivos para comemorar: o ritmo que há décadas divide opiniões foi oficialmente reconhecido como expressão cultural pernambucana após a aprovação, em maio deste ano, da Lei n° 16.044/2017. Proposta pelo deputado Edilson Silva (PSOL), a matéria altera a Lei nº 14.679/2012 e inclui o brega na lista de manifestações artísticas com espaço garantido na programação de eventos custeados pelo Estado.

“A provocação veio após uma postura discriminatória do Governo”, afirma o parlamentar. Ele se refere à decisão da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) de barrar o ritmo no Carnaval deste ano. Segundo Edilson, essa normativa gerou reação das bandas do segmento, que consideram a expressão musical como genuinamente pernambucana. “Fui procurado, conversei com eles e me convenci de que era possível e necessário inscrever o brega nessa legislação que já existia no Estado”, comenta.

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Cultura e a Fundarpe explicam que a decisão de não contratar artistas da cena brega para as grades de Carnaval e São João considerou que o ritmo “não é característico dos ciclos carnavalesco e junino e que os artistas desse gênero têm maior apoio da indústria cultural e dos meios de comunicação de massas e patrocínio para tocar durante todo o ano”. Por sua vez, outros gêneros tradicionais dependeriam da proteção governamental “para que não se percam e deixem de ser repassados para as futuras gerações”.

Alguns setores acusaram a Lei 16.044 de agir em defesa da “pornofonia” e da apologia ao machismo. “Essas situações não são monopólio da cena brega. Acontece com o rock and roll também”, argumenta Edilson Silva, que diz caber a todos o dever de fiscalizar. “O ritmo sofre preconceitos de determinadas elites culturais, mas isso a gente não resolve com uma norma legal”, conclui.

Com a nova regra, apresentações de brega poderão receber recursos da parcela, reservada a manifestações pernambucanas, de 60% dos repasses do Estado destinados ao financiamento de atividades culturais nos municípios. Para Kelvis Duran, a medida pode garantir também a turistas e a fãs de outros Estados o acesso ao estilo musical. “Precisamos nos apresentar em grandes eventos apoiados pelo Governo para sermos valorizados, não só musicalmente, mas economicamente”, opina o cantor.

Informações da Alepe

Foto: Patrick Silva

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