Tirar identidade é verdadeiro calvário

No Estado que tem um dos mais avançados polos tecnológicos do País e cujo governo se orgulha de ter implantado um novo modelo de gestão pública, uma pessoa pode penar durante meses atrás de agendamento para tirar uma simples carteira de identidade. E mais: na hora de confeccionar o documento, ainda é preciso sujar os dedos com tinta.

A designer Luana Lopes tentou, por três meses, agendar pela página do Instituto de Identificação Tavares Buril (IITB) uma data para a empregada de sua casa, que precisava do documento. Até que um dia, a doméstica resolveu ir, sem agendamento, ao Expresso Cidadão do bairro do Cordeiro, na Zona Oeste. “Só foi atendida porque o pessoal de lá deu um jeito por ela ser do interior”, diz Luana.

FILAS

Instituído em fevereiro de 2015, o agendamento eletrônico visava eliminar as longas filas e o esquema de distribuição de fichas para tirar o documento. Mas o fato é que é difícil encontrar datas disponíveis. A reportagem tentou, durante todo o dia de ontem, agendar atendimentos nos oito postos disponibilizados pelo governo em seis cidades: Recife (três unidades) e Olinda, na Região Metropolitana, Vitória de Santo Antão, Caruaru e Garanhuns, no Agreste, e Petrolina, no Sertão. Apenas em Garanhuns e Petrolina havia datas disponíveis para o mês de dezembro.

O Expresso Cidadão que funciona no bairro de Peixinhos, em Olinda, é um exemplo do calvário que é para o cidadão tirar um simples documento de identidade. Não há ar-condicionado: funcionários e requerentes sofrem com o calor (por volta das 11h, o termômetro marcava 31 graus no local) A identificação é feita pelo velho método de colocar tinta nos dez dedos das mãos. A única coisa da qual não se pode reclamar é da falta de sinceridade dos funcionários. Um cartaz afixado na área onde são colhidas as digitais avisa: “Não há material de limpeza”. Quem tem sudorese (suor exagerado nas extremidades) tem os dedos limpos com papel de rascunho da repartição, pois não há lenços umedecidos ou papel higiênico.

No balcão imundo, apenas uma pia da qual sai um tímido filete de água. É ali que as pessoas tentam, a duras penas, lavar os dedos. Obviamente, não conseguem, e saem reclamando. “Isso é vergonhoso. Coisa de quinto mundo”, diz, indignada a assistente social Janaína Botelho, enquanto tentava, em vão, lavar os dedos sujos de tinta. Foi mais uma a sair sem conseguir. Na unidade do Shopping Boa Vista, no Centro do Recife, e na de Caruaru, no Agreste, funcionários fazem cota para levar produtos de limpeza para os usuários.

Uma vez confeccionada, a carteira de identidade pode levar até dez dias úteis para ser entregue. Apenas nos casos de urgência – como viagens e cirurgias – é que as pessoas se dirigem à sede do IITB, na Rua da Aurora, bairro de Santo Amaro, para tirar a documentação. Nesses casos, o tempo médio é de três dias úteis.

Jornal do Commercio

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