Por ano, acidentes de trânsito custam ao estado o equivalente a 8 hospitais

O motociclista José Soares de Melo está internado desde setembro no HR. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press.
O motociclista José Soares de Melo está internado desde setembro no HR. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press.

O número de feridos em acidentes de trânsito no estado aumentou 8,5% para os acidentes em geral e até 13% para os que envolvem moto, entre 2013 e 2014. O aumento é mais um dado preocupante para a capital pernambucana, que foi considerada a mais violenta no trânsito no país na última pesquisa do Datasus, de 2012. Naquele ano, o custo para a saúde no estado com feridos e mortos no trânsito chegou a R$ 650 milhões, o equivalente ao custo de construção e instalação de equipamentos de oito hospitais como o Dom Helder Camara, que realiza 2,7 mil atendimentos na emergência por mês.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calcula em R$ 230 mil o custo médio por paciente grave em internação hospitalar. Os acidentados de moto são os que costumam passar mais tempo nos leitos hospitalares. Eles são submetidos a pelo menos duas intervenções cirúrgicas. O tempo médio de internação é de 35 a 41 dias, mas no Hospital da Restauração (HR), a principal unidade de trauma do estado há pacientes com até seis meses de internação.

É o caso do agricultor José Soares de Melo, 37 anos, internado desde setembro do ano passado e ainda sem previsão de alta. Morador de Vitória de Santo Antão, ele foi trazido para o HR pelo Samu, depois de colidir contra um carro em uma estrada de terra na Zona Rural do município. A perna quebrou em cinco lugares e ele já passou por duas cirurgias. “Tem parte da perna sem osso. Ainda dependo de um equipamento para colocar na perna e para aguentar a dor, só tem dipirona”, lamentou o agricultor, que tem esperança de voltar a andar, mas não quer mais pilotar moto. “A gente pilota e pensa que nunca vai acontecer nada.”

O coordenador do Comitê de Prevenção de Acidentes de Moto (Cepam-PE), o médico João Veiga, acredita que o aumento no número de acidentes com moto é reflexo da falta de fiscalização. “Esse é o principal fator, e não a quantidade de motos nas ruas.”

Aumentar a fiscalização sobre as motos é uma das próximas estratégias da Operação Lei Seca. “Com o aumento no número de acidentes, vamos intensificar as blitzes com os motociclistas. Mas acredito que a maioria dos acidentes ocorra por imprudência do condutor, e não necessariamente pelo consumo de álcool”, ressaltou o coronel André Cavalcanti, coordenador da Operação Lei Seca.

Desastres com moto são maioria
Um dos principais termômetros para medir o aumento no número de vítimas de acidentes de trânsito é o pagamento do seguro DPVAT. De acordo com o presidente da Conselho da Federação Nacional das Empresas Corretoras de Seguro, Carlos Valle, os acidentes de moto no Nordeste respondem por 59% das ocorrências de acidentes.
As empresas de seguro, no entanto, constataram que grande parte das vítimas não paga o seguro DPVAT. “Muita gente financia seu bem em nome de um parente ou amigo, que não possui habilitação, e a motocicleta é vendida e licenciada sem que nenhum responsável pelo veículo seja indicado. E as multas não serão atribuídas a ninguém”, criticou Valle. O assunto já foi debatido pela Operação Lei Seca. “Não dispomos de mecanismo legal para condicionar a venda à habilitação. Mas reconhecemos que é um problema”, revelou o coronel André Cavalcanti.

SAIBA MAIS
O custo dos acidentes de trânsito em Pernambuco
R$ 650 milhões foram gastos com feridos e óbitos de acidente de trânsito em Pernambuco em 2012

108 UPAS
poderiam ter sido construídas com os recursos gastos com os acidentados de trânsito (cada UPA custa em média R$ 6 milhões)

6 hospitais
do porte do Hospital Mestre Vitalino (Caruaru) poderiam ser construídos e ainda sobraria dinheiro para mais 12 UPAS

Os custos serão ainda mais elevados nos últimos dois anos:
De 2013 a 2014 – houve um crescimento de 8,5% no números de acidentes no estado com todos os tipos de veículos

De 2013 a 2014 – houve um crescimento de 13% somente nos acidentes com motos

O IPEA estima o custo hospitalar de uma vítima grave em acidente de trânsito em R$ 230,6 mil.

Vítimas que foram às unidades de saúde

2013
42 mil* feridos em acidentes terrestres (nem todos ficam internados)

34 mil* feridos em acidentes de moto

2014
46 mil* feridos foram atendidos pelo estado (nem todos ficam internados)
34 mil* feridos eram de acidente de moto
De cada 4 pessoas feridas no trânsito, 3 estavam em uma moto

Diario de Pernambuco

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