Há Dias Sombrios – Por Lucivânio Jatobá

EXISTEM DIAS SOMBRIOS EM QUE O INDIVÍDUO PROCURA O CHÃO PARA PISAR, SE APOIAR, E ENCONTRA O VÁCUO… O MERGULHO NA MELANCOLIA É ENTÃO INEVITÁVEL. TENTA-SE UM IMPULSO PARA IR À TONA, MAS, CADÊ AS FORÇAS PARA SAIR DA INÉRCIA?


DIAS ASSIM SÃO ABSOLUTAMENTE INSUPORTÁVEIS. POR MAIS QUE SE TENTE DIZER QUE NÃO, SÃO TERRÍVEIS E DEMORADOS.

QUEM DERA QUE OS PONTEIROS DO RELÓGIO DA MINHA LINHA DA VIDA GIRASSEM NOUTRO SENTIDO, PARA TRÁS, E, DE SÚBITO, O TEMPO ME JOGASSE EM VITÓRIA DE SANTO ANTÃO… VOLTARIA À MINHA ALIENAÇÃO INFANTIL. PEGARIA MEU CARRINHO DE ROLIMÃS E DESCERIA NELE, VELOZMENTE, PELA CALÇADA DA PRAÇA DO ANJO, SENTINDO-ME UM JAMES DEAN CABOCLO. IRIA ATÉ A AV. MARIANA AMÁLIA PARA VER O CARNAVAL DE 1965. PARTICIPARIA DO CORSO, NO JIPE DO MEU PAI. DISTRAIRIA-ME JOGANDO ÁGUA, INOCENTEMENTE, COM BISNAGAS, NOS TRANSEUNTES, DURANTE A MANHÃ DO DOMINGO DE CARNAVAL. NO DIA SEGUINTE, ATRAVESSARIA A RUA E IRIA TOCAR MEU CAVAQUINHO, DESAFINADO, SOB A SOMBRA DE UMA CASTANHOLA NA PRAÇA DO LIVRAMENTO. NA QUARTA-FEIRA DE CINZAS, MEIO TRISTONHO, IRIA AO CINEMA BRAGA PARA ASSISTIR A UM FILME DE COWBOY. A REALIDADE SERIA APENAS O PRAZER DE BRINCAR, COMO SE A VIDA FOSSE ALGO DIGNO.

MAS O TEMPO É INEXORÁVEL. O TEMPO PRESENTE VENCE QUALQUER ILUSÃO. A REALIDADE SEPULTA SEMPRE A ESPERANÇA.

(Minicrônica de Lucivânio Jatobá)